Pátria não gentil.

Uma única lágrima, simples, mas verdadeira neste momento tão oportuno para uma breve bebida – forte e tão carmesim como o sangue de indigentes, que espreitam os becos e avenidas dessa cidade sem identidade, manchadas e marcadas por uma história que confunde o entendimento de tantos - que sonham e esperam um socorro que parece estar longe desses olhos marejados.

Como pude duvidar das sábias palavras que meu pai tecia nesta varanda - como pude duvidar do som do salgueiro, enquanto muitos morriam sem uma razão, ou sem explicações para causas que jamais serão julgadas. Mas, que apenas serão submetidas a duras penas, ditadas por pensadores sem nenhum sentimento - que erguem uma bandeira, que traduz a falsidade ideológica da fome de justiça. Justiça expressa em gemidos de tantas mães que jamais serão ouvidas – que choram e padecem sem ao menos serem percebidas.

Com muitos poderes, homens ditam o rumo de filhos de uma pátria não tão gentil - que esmagam e destroçam casas, famílias, escolas, pais e um País. Que desgraçam uma realidade – que iludem crianças com falsas cartas de um jogo que não possui um vencedor. Todos perdem no tabuleiro da insanidade. São mascarados, escondendo os massacrados que desafiam suas ordens. Talvez, a tarde demore a chegar - talvez a verdade não bata em tantas portas - talvez esse filho não retorne e cante a mesma canção de liberdade – canção que a mãe gentil procura nas ondas de tantas rádios mudas – Rádios que foram aprisionadas e caladas, por acreditarem que o tempo ainda corre no largar dos pensamentos. Julgados e sentenciados são esses pensamentos - embebidos em um cálice de sangue e de vergonha - loucos e perdidos, se apresentam sem rumo e sem expectativas; desejam a morte, não por uma crença mentirosa, mas pela vida de tantos outros que se perderam.

Por que as armas são tão injustas?

Seguir sozinho e assumir os próprios pecados, significa viver escondido entre os vivos de espíritos podres - significa caminhar entre os mortos com almas perfumadas.

Seguir sozinho, é ter os olhos vendados - é procurar os que censuraram nossos Joãos - é enterrar o “Correio da Manhã”, em uma fria manhã de Quarta-Feira no jardim de um Castelo negro, de um dia que não parecia ser tão Branco.

Cristiano Stankus
Enviado por Cristiano Stankus em 15/04/2022
Reeditado em 18/04/2022
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