verbos no pretérito imperfeito e no futuro do pretérito

Pode ser que em algum momento da história eu tenha ficado assim. Completamente perdida, sem saber pra onde ir, onde estou e como vim parar aqui. Você já se sentiu sentada no meio de uma avenida movimentada, tentando distinguir os sons e se concentrar só em um, mas é completamente impossível porque há tantos que eles acabaram se tornando um só? Eu me sinto perdida entre tantas coisas, misturadas em verbos no pretérito imperfeito e no futuro do pretérito . Eu costumava, eu falava, eu andava… eu queria, eu sabia, eu podia… Tento encontrar algum verbo no presente, mas a única coisa que me veem são ações planejadas, não feitas e ainda não consertadas.

Eu fiz piquenique aqui com o meu ex e agora estou fazendo com outro cara. Eu deveria me preocupar com isso? Eu devia não pensar nisso, mas não poderia deixar de lembrar que eu estava aqui há um ano atrás com um cara e agora estou no mesmo lugar… mas com outra pessoa. Isso seria uma falta de consideração com o atual? Eu deveria pensar em outro lugar para ir? Eu não superei ainda porque penso nessas coisas, mesmo não suportando lembrar de outras? Não, eu superei. Eu estaria internada em uma clínica psiquiatra se estivesse sido de outra forma. Eu provavelmente estaria intubada com gás oxigênio, com talas em todos os meus pulsos e nem sei mais…

Eu queria que algumas coisas tivessem acontecido de outra forma. Mas eu também não sei dizer quais coisas e nem como deveriam ter acontecido. Eu simplesmente não sei. Porque todo esse barulho está me deixando atordoada, sem sentido e confusa.

Lembro que passei cinquenta minutos explicando para a minha psicóloga que eu não entendo a minha mente, mas poderia tentar explicar o que estava sentindo. Talvez, esse seja o único verbo que eu consiga dizer no presente. Sentir.

Eu sinto culpa. Hoje, eu sinto culpa. Por tudo que fiz com meu ex. Por tê-lo deixado como eu deixei. Por não sentir mais nada por ele. Por não poder ajudá-lo. Por ter que dizer a verdade e machucá-lo. Por ter melhorado depois que terminamos, enquanto ele piorava. Por ter destruído amizades que ele tinha durante muitos anos. E que eu tinha também. Por saber que ainda brigam por causa dessa guerra fria. Por tê-lo feito em algum momento desconfiar de mim e, então, retroceder ao que deu. Por cada remédio que ele tomou. Por cada lágrima, noite perdida, dor… por cada corte que psicologicamente o causei. Sinto culpa por amar outra pessoa tão intensamente quanto eu nunca o amei. Por entender o que ele sentia por mim e saber o quanto dói sentir essa ansiedade maluca.

Eu me sinto ansiosa, esperando uma mensagem que eu sei que vai chegar. Eu não deveria me sentir assim, mas eu ligo o celular a cada cinco segundos para ver se tem alguma notificação. Eu me sinto culpada por isso também. Sinto medo de acabar agindo igual meu ex.

Eu sinto como se não conhecesse o meu namorado suficientemente, porque ele não me conta das coisas mais profundas dele, aquelas que a gente costuma não contar pra ninguém. Eu não me sinto sua confidente, sua melhor amiga, sua parceira. Eu me sinto só… a namorada bonita.

Talvez seja porque ele sempre está dizendo o quanto eu sou linda, o que eu adoro... Talvez seja também porque nós conversamos pouco no whatsapp (o que eu gosto também) e se vemos com pouca frequência do que eu gostaria. Ele sempre diz “isso é assunto para te contar pessoalmente”, mas nós raramente nos encontramos. Então, nossas conversas se concentram em apenas superficialidades durante semanas…

Eu sinto como se ele não quisesse sair comigo. Mesmo sabendo que ele trabalha loucamente e tem quinhentos projetos (igual eu). Porém, eu lembro de vê-lo animado no carro dizendo que iria conseguir me ver no dia seguinte e a ansiedade vai embora. Ele se sente feliz por saber que vai me ver, então… ele gosta de sair comigo. Eu não preciso sentir-me ansiosa. Automaticamente lembro do sorriso gigante que ele dá do começo ao fim dos nossos passeios. Da risada abafada. Das inúmeras vezes que ele disse que está vivendo um sonho. Das vezes que ele pegou a minha mão e prometeu que tudo iria ficar bem. Das vezes que ele disse que me amava, olhando dentro da minha pupila. Da vez que eu estava mal, pedi por um abraço e ele prontamente pegou o carro e veio me encontrar. Ficou horas ouvindo sobre um sonho maluco que eu tive, sobre minhas inseguranças e meus medos. Lembro que cheguei lá tremendo e foi só ele me ouvir, apoiar a mão na minha cabeça, fazer umas piadas... que tudo ficou bem.

Eu me sinto ridícula por pensar tudo isso. Por sentir tudo isso. Contudo, sinto-me tranquila por conseguir transcrever todos os sons em um papel e conseguir ouvir cada um. Separados. E fazem muito mais sentido agora.