DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 11; Dia 12)
Dia 11
Nesta noite terminei meu produto.
Quer dizer, nem era noite ainda, só estava começando a escurecer. Entretanto nem deu tempo de comemorar.
Ainda estava no laboratório, escondido no fundo de meu quintal.
Quem olha de fora não imagina o que tenho ali, para minhas horas de lazer. Meu universo e meu hobby; minha paixão e meus investimentos. Meu santuário de servidor público aposentado.
Nem consigo lembrar mais quando comecei a montar aquilo tudo.
Fui fazendo ao longo de vários anos.
Aos poucos e discretamente.
Estava lá, curtido o sucesso de ter concluído meu produto quando ouvi aquela voz me chamando.
Apesar do isolamento acústico do meu laboratório, consegui ouvir a voz da viúva, minha vizinha.
Fechei o laboratório e fui até a rua, passando por dentro da casa. Dei a impressão de que estava fazendo alguma coisa na cozinha, pois cheguei à porta com um guardanapo na mão.
Ela estava lá, como sempre, de short, e um sorriso desenhado no rosto. Mal abri a porta e ela fez cara de decepção. Disse que veio me convidar pra fazer o lanche da tarde com ela, mas pelo visto eu já estava jantando.
Claro que respondi que não.
E ela me convidou: “então vamos!”
Como exitei em responder ela completou: “acabei de fazer um bolo!”
E explicou que há muito tempo não fazia e quando fazia, não ficava bom e que esse havia dado certo e que ela vivia sozinha e o bolo era muito grande só pra ela e então lembrou que eu também vivia sozinho e que já estava escurecendo e todo mundo tem que se alimentar e eu acabei indo até a casa dela.
Foram horas muito agradáveis.
Dia 12
02 de maio de 2026
Hoje, preparando-me pra ir a Brasília, ainda me lembro da noite de ontem.
Horas agradabilíssimas.
Mas não posso me demorar muito, com estas anotações. Ainda tenho que ir a Porto Velho.
E são quase seis horas de viagem até lá.
Meu produto, lá no laboratório, está pronto.
Só tenho que pegar umas roupas, por na mala e sair.