SAINDO DE ÓRBITA
Nas cidades, as pessoas que vão aos Bancos os cidadãos por ter carteira assinada, sindicato, salário definido por lei, e com uma conta bancária, e os não-cidadãos, indivíduos que são cadastrados em políticas sociais compensatórias apelam para as boas maneiras usando técnicas de relaxamento para equilibrar corpo e mente. Haja paciência nas filas quilométricas que se formam, onde alguns usam técnicas de relaxamento e outros desafortunados chegam até a dormir para serem atendidos no dia seguinte. São todos consumidores impossibilitados de cumprir seus deveres e receber seus direitos.
Curioso é que esses serviços informatizados vieram para agilizar o atendimento que no passado era movido a papel impresso, que gerava morosidade e burocracia. É difícil de acreditar, mas a tecnologia de ponta não acabou com o ritmo lento de outrora. Se Kafka fosse vivo ia achar que estava diante de um pesadelo kafkiano.
Outros problemas ocorrem quando não temos Smartfones, Computadores de mesa ou não sabemos usá-los. Assim vamos gastar dinheiro nas empresas especializadas (tipo cyber café) nestas tarefas, que antes eram direcionadas para os Correios ou Bancos e manuscritas. Agora, ao contrário do que prega a propaganda, é mais trabalhoso e caro ter de preencher a papelada e entregar estes documentos via Internet. Ver o formulário de Imposto de Renda onde se tem que obedecer às operações criptográficas e ter habilidade no manuseio da máquina. É tarefa para profissionais do ramo.
As dificuldades continuam com o uso dos robôs (androides) que tem substituído o homem nas tarefas pesadas dispensando o exército industrial de reserva. Para governantes e empresários adeptos da tecnologia virtual, o que interessa é garantir o carimbo da modernização. Mas, a informática só repaginou os caminhos tortuosos da burocracia. Outro aspecto que deveria ser agilizado diante de tantas catástrofes naturais seria dotar Prefeituras e Governos Estaduais de verbas públicas para saneamento urbano e rural através de proposta de Reforma Estrutural com Frente de Trabalho. Com realocação do pessoal desempregado para outras regiões, desafogando as metrópoles que são bolsões de pobreza.
Mas o Estado está centrado na informatização, imposta pelos países ricos com a eterna cantilena do futuro da humanidade. Com a novidade do “Great Reset” que, como o nome indica, é o reordenamento do mundo através do avanço tecnológico O país capitalista hegemônico e seus satélites europeus quer garantir o seu comando,
preocupado com o bloco eurasiano e aliados. Não seria prudente conservar, nos países dependentes, os antigos procedimentos das faturas impressas e da reativação pública dos Correios, ao invés de se prender às ilusões cibernéticas? Há tantos reclamos das pessoas que se sentem desamparadas diante da destruição dos serviços públicos ... Quem paga é sempre o povo.
Os serviços públicos (telefonia, água, luz, gás, transportes) antes empresas estatais foram privatizadas com o argumento de ampliar os direitos da “clientela”. Agora, fica-se horas para contatar as empresas diante da ineficiência destas Operadoras. Os chamados meios de consumo coletivos quando transferidos para a iniciativa privada ganham nos lucros e perdem suas funções primordiais. Basta recorrer às Centrais de Atendimento aos Usuários para ter uma ideia de que sua utilidade é somente empresarial.
Se a privatização e a automação não vieram para beneficiar a todos, a quem beneficia? Enfrentamos um círculo vicioso de problemas e falsas soluções. Nunca este país esteve numa condição tão grave de desgoverno e ausência total de regras (anomia).
O governo só governa para seus pares, e é bem fácil perceber a situação A crise econômica afetou os serviços aos consumidores, mas os banqueiros estão usufruindo em tudo, embora os bancários desempregados, as filiais fechadas e a desqualificação no atendimento aos clientes. Porém, a contrapartida para resolver o problema é forçar o consumo de aplicativos(app), de cripto moedas, dos cartões sem conta bancária (Pix). Afinal faz tempo que o dinheiro de papel (fiduciário) tem pouca circulação...
Crianças e jovens, filhos de média e altas rendas crescem com acesso ao circuito eletrônico. Mas o que fazer com os “analfabites” (despreparados) em um país com tantos analfabetos? O que fazer com os idosos que foram condicionados às antigas operações mentais? E às maiorias que não tem equipamentos eletrônicos e nem poder aquisitivo para usufruí-los? Ao invés da inclusão digital o que está ocorrendo é a constante exclusão social.
Retomamos ao Great Reset com o estímulo à robótica, a internet das coisas e o 5G. Será que somos nós que reiniciamos as máquinas, ou somos nós os reiniciados? Entre 1811 e1816, na Inglaterra, o “ludismo” marcou o movimento trabalhista pela destruição das máquinas devido à mecanização acelerada. Estávamos no início da Revolução Industrial. A partir do século XX temos a Terceira Revolução Industrial, a técnico-científica responsável pela crescente automação do trabalho e do desemprego. Um cenário apocalíptico com os robôs centrados no trabalho e a mão de obra humana ociosa, não é mais um filme de ficção científica. É até possível prever a volta dos quebra-quebra das máquinas. A História sempre se repete na ausência de práticas sociais inovadoras.
Há um cerco aos consumidores para que tenham de se subordinar ao mundo virtual. Esta época pós-pandêmica solidificou mecanismos subliminares em que somos cada vez mais catapultados para dentro dos aparelhos tecnológicos. Vai ser relembrada como o boom do home office. Mais do que nunca o trabalho precário ou uberizado será seduzido pelo mais cultuado objeto do desejo- o “fálico” Smartfone. É o antídoto contra o tédio, a solidão, a fome e a falta de qualidade de vida. Sua popularidade superou a televisão, o rádio, o telefone fixo e o celular comum. É o principal fetiche maquinico. Vicia o usuário e é mania planetária. Um escapismo que não altera a consciência como fazem as drogas sintéticas.
No passado usavam a lobotomia para alterar o comportamento dos doentes mentais. No presente com uma nova onda tecnológica vão avançar experiências sobre a inserção da máquina no organismo humano. Essas experiências já existem com substituição dos órgãos e partes do corpo humano por próteses biônicas. O homem biônico torna-se uma variação do androide com origem humana. Os bioslaboratórios que fazem experimentos com a “biônica” associando mecanismos biológicos aos eletrônicos, talvez consigam alterar a mente humana com “valores padronizados” que mexem com a passividade ingênua da “consciência de rebanho”. Se será este um dos desafios do Terceiro Milênio quem viver, verá.
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