Só quem tem gato entende
Alta madrugada.
Estou no escritório, spotify tocando as novidades do Rock (2020), gatos por todos os lados. Em cima e em ambos os lados do laptop, entremeados em minhas pernas, atrás de mim, do lado de fora de casa, defronte à janela do escritório. Vou ao meu quarto pegar um maço de cigarros, gatos sob os móveis, demarcando seus territórios em minha cama, dentro de cômodas adaptadas em confortáveis felídeos dormitórios (sem as portas, forradas com macios edredons). Vou à cozinha pegar mais uma cerveja. Ao menos uma dezena de felinos espalhados por todas as partes, sobre a geladeira, microondas, pia... Volto ao escritório, tento convencer Valentina a sair de cima do teclado do laptop. Árdua tarefa. Mas, possível com um pequeno suborno gustativo. Retomo, ao menos temporariamente, à posse do objeto eletrônico que me serve como máquina de escrever.
Alguns de vocês devem estar se perguntando “mas quantos gatos esse sujeito tem em casa?”, “como consegue viver assim?”, “como cuida de tantos animais?”.
Dentre a diversas atividades que exerço, a única de real importância é resgatar e cuidar de gatos abandonados; considero-os meus filhos, são minha vida e felicidade, são o melhor motivo para que eu siga em frente, mesmo estando o mais afastado possível dos distorcidos valores sociais contemporâneos.
Quando estão assim, todos ao meu redor, me “atrapalhando”, sinto-me pleno, amado, tocado por sua pureza.
Ensinaram-me o amor incondicional, acalmaram-me o espírito, fizeram-me de alguma forma melhor.
Por outro lado, mostraram-me como minha raça é perversa, pervertida, egóica e destrutiva.
Quem sabe, um dia, quando eu crescer, amadurecer e evoluir, vire um gato.