Meu inverno interior
Absorto em meus pensamentos, olho preguiçosamente através da janela do carro.
Chove.
Grossas gotas furiosas são imperiosamente lançadas contra o vidro.
Faz frio.
O vento ruge com a eloquência de um sôfrego.
Os caminhantes andam com rapidez, buscando se esconder, alheios a mim, que os observa.
Espessas poças se formaram ao entorno de um bueiro, trazendo à vida um intrépido redemoinho, que gira com rapidez, engolindo as folhas que por desaviso ousaram chegar ao seu encalço.
Que dia triste, argumento de forma melancólica.
A cidade se tornou cinza.
Alheio a isso, está um menino. Olha. Para. Dança na chuva, feliz com o presente. Suas risadas chamam atenção dos rápidos transeuntes, que observam com desaprovação.
Ele é a personificação da felicidade.
Um rápido pensamento me ocorre.
Seria eu ou o dia, triste?
Estaria cinza meu interior como o céu, desfilando como um pesado manto?
O sinal abre, carros buzinam atrás de mim, me instigando a seguir.
Olho mais uma vez para o menino. Já fui assim? Não me lembro. Invejo-o.
Ele contrasta com o tempo.
Mais carros buzinam, pessoas gritam. Acelero meu carro enquanto me invade a certeza.
Sou eu triste, não o dia.