CONVICÇÃO MORAL E CÍVICA
Eu tinha 14 anos usando entrei no movimento de escoteiros de minha cidade, estava feliz e orgulhoso por ostentar no pescoço o lenço com a linda flor-de-lis, usar o chapéu marrom com o emblema da tropa, envergar a farda cáqui que nos distinguia dos outros meninos e levar na cintura a faca característica dos membros do grupo. Eu me sentia um verdadeiro militar da ecologia, protetor da fauna e da flora e guardião dos bons costumes e do civismo patriótico.
Antes de me inscrever no escotismo, li muito a respeito tanto das suas atividades quanto do seu fundador, um militar chamado Baden Powell, portanto já tinha um bom conhecimento das virtudes cívicas e patriotas dos escoteiros. Daí meu orgulho juvenil de integrar um grupo tão seleto de jovens disposto a servir ao próximo e agir segundo os melhores preceitos de civilidade e patriotismo.
Uma das determinações tácitas dos líderes era que cada escoteiro deveria cumprimentar com a saudação de continência usando a mão direita com os três dedos em riste e o polegar sobre o mindinho, e dizer o lema "sempre alerta!" quando encontrasse outro escoteiro. No meu primeiro, dia vestindo a farda e todo paramentado, fiquei muito feliz e prosa ao avistar um colega do grupo, eu calouro, ele veterano, então fiz a saudação, disse o lema empertigado e, ansioso, esperei o cumprimento dele. Que nada! Ele riu da minha cara, nem falou comigo e se foi ironizando. Uma grande decepção para mim, abalou-me sobremaneira o acontecimento.
Minha convicção moral e cívica, no entanto, persistiu, ser visto pela sociedade como um valoroso escoteiro falava mais alto do que a atitude grosseira do veterano. Por isso, continuei sendo um exemplo tanto para mim quanto para os demais colegas do grupo, até o dia em que, por um sorriso inapropriado no momento errado, o monitor me castigou ordenando que eu desse um nó no meu lenço. O tal nó, ressalte-se, era visto como algo desonroso, embora em grau ínfimo. O escoteiro que passasse nas ruas com o lenço exibindo um nó era visto como bagunceiro e desobediente. Tudo que eu nunca queria ser nem dar a impressão que era. Aquele momento me deixou tão acabrunhado e infeliz, tão triste e desolado que o monitor percebeu e, admirado com meu remorso genuíno, deu um pequeno sermão longe dos outros e falou para eu desatar o nó, ordem que somente ele poderia dar. O alívio de que fui tomado parecia como se um enorme peso sufocante me tivesse sido tirado dos ombros, principalmente porque ninguém fora do grupo viu o nó no meu lenço. A partir desse dia, convicto de minha condição de cidadão de bem, jamais tornei a dar motivo para receber a admoestação caracterizada pelo visível nó no meu belo lenço.