Injustiça Musical

Tive o prazer de me apaixonar por uma nova música. Algo nela me pegou que eu ainda não entendia o quê. Mas eu salvo ela para escutá-la novamente. No outro dia, abro o Spotify e clico em play. Ela continua boa, quer dizer, agora está excelente. Começo a perceber suas nuances. Reparo que ela tem uma batida original, um vocal ousado, uma guitarrinha marota no fundo. E reprodução após reprodução, já estou entregue a ela. Tiro um tempo depois para olhar sua letra com mais calma. Fico ainda mais fã. “Puta letra maravilhosa” – digo em frente à tela. Então, depois de tanto ouvi-la, decido procurar o videoclipe desse hino no Youtube. Mas não o encontro. Não há nada lá. Encontro apenas montagens feitas por fãs com a letra da música e imagens aleatórias da internet. Então, naquele momento, percebo algo intrigante: essa música não é um hit. Verifico que o número de reproduções dessa música é menor em relação às músicas do mesmo álbum. Ela não aparece no Top 10 de nenhuma lista da banda que a toca. Nos shows, essa música não é cantada. Nas entrevistas da banda, a música não é citada. Logo, sinto um desespero. Passo a me sentir sozinho. Cresce em mim um sentimento de injustiça: “Como o mundo não percebe que essa música é uma obra de arte? Como não estamos falando sobre ela? Não tem direito nem a um videoclipe?” Vasculho e percebo que há muitos comentários nos vídeos da banda de pessoas que se sentem injustiçadas pelo mesmo motivo. Porém, parece que não somos suficientes para que coloquem uma luz sobre a canção. Desiludido, chego a questionar meu gosto musical. Então, reproduzo a música novamente. E lá está ela, maravilhosa como sempre. Desconhecida para o mundo, desprezada pelos seus criadores, mas muito amada neste pequeno quarto onde a escuto.

Gil Barreto
Enviado por Gil Barreto em 10/04/2022
Reeditado em 10/04/2022
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