DESISTIR JAMAIS.
Trabalhar com o público é um grande desafio, um dos maiores eu diria. Não é nada fácil se despir de todos os seus problemas, dificuldades, dores, incertezas, angústias, colocar um sorriso largo no rosto e atender o seu cliente como se você fosse a pessoa mais feliz da face da terra oferecendo o melhor produto do mundo. Nem sempre, o que você está oferecendo é assim tão bom, no entanto, você tem que fazer parecer que é. As suas palavras, os seus gestos, todo o teu ser tem que passar para o cliente a confiança de que aquilo, ou aquele produto, é simplesmente sensacional.
Durante muitos anos eu trabalhei em indústria, em uma metalúrgica para ser mais específico. Foram quinze anos em uma fábrica que produzia alumínio. O ritmo e a sistemática de uma fábrica é muito diferente de quem trabalha em comércio com público. No meu caso, eu trabalhava em turnos de seis por dois, ininterruptos. Com uma equipe de doze pessoas que eram divididas nas tarefas relacionadas à demanda do dia. Não tínhamos que lidar com público, nem ter que oferecer nada para ninguém. Na maioria das vezes eu apenas eu em uma determinada máquina, o turno todo.
E claro que, o ambiente de uma fábrica não é dos melhores, em cada segmento tem os seus desafios e desgostos. Na época eu não tinha a compreensão nem a experiência de vida que tenho hoje. Se eu tivesse a mente de hoje naquele corpo jovem e saudável talvez eu teria ido muito mais longe. Mas, nem sempre as coisas são do jeito que queremos. Porém, hoje percebo quanto tempo eu desperdicei. Quantas não foram as oportunidades que deixei passar, se fosse possível voltar no tempo, mas, o tempo... O tempo é como um rio, não volta atrás.
Depois que fui desligado da antiga empresa fiquei por dois anos parado, outra parcela de tempo perdido que não será possível recuperar. Devido a um processo trabalhista que abri contra a antiga empresa, fiquei com medo de ter um trabalho com carteira assinada e isso influenciar no ritmo do processo, tolo que fui, o processo simplesmente estagnou. Agora, está a passos de tartaruga, e sabe lá quando vou ter um resultado favorável dessa dura batalha. Foi então que depois de dois anos retornei ao mercado de trabalho. Meu antigo ofício, que aprendi quando adolescente, valeu para que eu conseguisse me recolocar profissionalmente.
Três anos trabalhei em um supermercado, balcão de açougue. Saí recentemente, estou a seis meses em outro supermercado, novamente, balcão de açougue. Não é o tipo de profissão desejada, pelo contrário, ninguém quer, no entanto, não é uma profissão que se paga tão ruim assim. Trabalha-se muito, público exigente, labuta exaustiva e interminável. É sempre a mesma coisa todos os dias. O desafio maior talvez seja o de ligar com as pessoas, sorrir para elas quando na verdade a vontade é de chorar. Enfim, nada é tão fácil como, às vezes, se parece e nem tão difícil que não possa ser feito. Dedicação e amor é o segredo dessa profissão tão singular como é em qualquer outra. O segredo é não desistir jamais.