Que marca deixarás no mundo?

Como lidar com a perda de nossos amores?

Há algo mais difícil do que isso?

Não para mim.

Amo os animais.

Cuido de muitos e frequentemente eles se vão.

Masoquismo?

Alguns dirão que sim. Mas não para mim. Explico-me.

A maioria das pessoas, ao perderem seu primeiro pet (sim, eles têm vida curta e, provavelmente, partirão antes de você), sofrem tanto que optam por nunca mais ter outro.

Sem, de jeito algum, desmerecê-los em qualquer sentido, costumam ganhar ou comprar seu pet para distrair um filho ou para ter companhia. No início, veem-no como um ser inferior, um tipo de “objeto” animado, interativo. Com o tempo, percebem que são mais do que isso, e acabam se apegando ao “bichinho”.

Contudo, existe um pequeno grupo de seres humanos espalhados pelo orbe que veem esses “bichinhos” como iguais e, talvez, até superiores à espécie à qual pertencem. Além disso, ama-os TANTO que não conseguem deixar de se compadecer com os sofrimentos desses pequenos e puros seres, muitas vezes abandonados, doentes, famintos, carentes, cujo único mal que fizeram foi nascer em uma sociedade que, no passado, domesticou-os para lhe servir ao trabalho, anulando-lhes os instintos naturais de sobrevivência e tornando-os dependentes da raça dominante. Mais tarde, quando não mais necessários ao trabalho junto ao homem, foram simplesmente descartados, relegados à própria sorte. Não bastasse sua domesticação (dependência, anulação instintiva, etc.), substituíram-lhes o habitat natural por biomas de concreto.

Daí você pode dizer: “eu não fiz nada disso, portanto não é problema meu”.

Ahhh, é sim! É problema de todos nós, pois enquanto não assumirmos a responsabilidade do que nossa raça vem fazendo há milênios (matando, devastando, poluindo...), continuaremos a destruir os ecossistemas necessários ao equilíbrio – e existência – do lar que habitamos e a dizimar nossos irmãos, apenas por serem de outras espécies.

Por isso, não sou masoquista, mas responsável, ao fazer parte de um pequeno grupo de “malucos” denominados “resgatadores e cuidadores” de animais abandonados que, muitas vezes, largam seus afazeres, abandonam suas ambições, dedicam quase que integralmente seu tempo, posses e tudo o mais que for preciso para cuidar desses pequeninos seres puros e inocentes.

Não. Resgatadores e cuidadores de animais abandonados não são santos ou melhores do que ninguém. São apenas mais um dentre os diversos grupos humanos que possuem uma dada preferência, ou dom, ou, ainda, se preferirem, “insanidade” positiva que optam por deixar um pouquinho de lado seu ego em prol do próximo.

Voltando aos “bichinhos”, perdê-los com frequência, ficar semanas de cama quando cada um se vai, tomar antidepressivos, deitar-se a cada noite tenso e triste por causa de um ou outro já idoso ou doentinho, que pode partir a qualquer momento, etc., nada disso justificaria a covardia de não cuidar deles.

Indefesos como crianças, tentamos, com máximo amor, propiciar-lhes a melhor qualidade de vida possível, pelo curto tempo de vida que possuem.

E o sofrimento?

Sim, há muito sofrimento quando os perdemos, mas também orgulho por termos assegurado-lhes o melhor em vida, e afeto, amparo e companhia necessários na hora de sua partida. Essa nossa contribuição para um mundo melhor, a marca de amor incondicional que deixaremos, o motivo pelo qual seremos lembrados e, talvez, a única coisa real que daqui levaremos.

E você? Que marca deixará para trás? O que está fazendo para melhorar o mundo?

Quando crescer e evoluir, quero reencarnar como um gato.

Rafael Lengruber
Enviado por Rafael Lengruber em 09/04/2022
Reeditado em 09/04/2022
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