NOS VERDES OLHOS DELA EU VI A ESPERANÇA

A tarde parece o alhar aturdido de alguém surpreendido por algo repentino, tem um quê de melancólico. Penso que o sol se esqueceu do ocaso, está agitado, calorento, fugidio, nem lembra que daqui a pouco vai anoitecer e a lua🌙 tomará deu lugar. Ou talvez as nuvens estejam zombando dele e tenham azedado seu dia.

Até mesmos os poucos 🐦 pássaros nas proximidades não voam mais igual a ontem, como que rodopiam fazendo acrobacias estranhas, brigam entre si no ar, mas singularmente em silêncio, sem gritos ou algazarra. Nunca vi nada assim antes, o céu parou, os carros não buzinam afogueados, os transeuntes dão a impressão de que choram. Porém as lágrimas não fluem, os braços perderam a agitação, as pernas se mostram bambas. Enlouqueram todos ou somente eu?

Uma mulher pintada de verde e amarelo, a visão turva, anda devagar segurando um velho cartaz onde pede liberdade e o direito de tomar os próprios rumos e fazer suas escolhas da forma que preferir. Lança-me o olhar casmurro, tenta balbuciar frases esparsas, mas morde as letras e as pisa claudicante. Sorrio para ela, mas ela simplesmente despreza meu sorriso, foge de minha indulgência. Então, tranco meus sentimentos, forço-me a não sonhar. Ela passa por mim e se vai.

Eis que, inesperadamente, um sujeito todo vestido de vermelho vem em minha direção e pergunta em quem vou votar este ano. Ele ostenta uma estrela também vermelha na testa. Assusta-me sua impulsividade e até mesmo o jeito agressivo de me abordar. Respondo que o voto é secreto, recuso-me a revelar minha opção eleitoral. Quase fui empurrado. Dando uma rabiscada trejeitada, mostrando-se enraivecido, lá se foi ele resmungando sua decepção.

De repente o sol adormeceu no horizonte e deu lugar à boquinha da noite. Sentado num banco em frente a uma cafeteria, parei de escrever e escondi meu celular com medo de ser assaltado. A última coisa que vi antes disso foram os olhos verdes de uma garota, que, alvíssaras, me sorriu. Devolvi a gentileza enquanto ela passava por mim. Havia esperança nos olhos dela e isso me animou sobremaneira. Felicidade terminar esta crônica após a suavidade sublime daqueles olhos esperançosos. O medo não me venceu, apesar de tantos pesares. Há esperança, e ela anda por aí nos olhos verdes daquela garota singela.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 08/04/2022
Reeditado em 09/04/2022
Código do texto: T7490953
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