Nem tudo é poesia

NEM TUDO É POESIA

Rosália Cristina, 01/05/2020.

A rua quase vazia, no portão da casa o homem da água mineral, suando sozinho o peso do seu dia. Além do peso, trouxe a notícia de que já se foram cinco pessoas daquela rua. E tem mais duas já doentes, da mesma família, na rua vizinha. Completou, alterado. Ao dizer essas coisas, ajeitava sua máscara protetora.

Aquela rua é uma rua alegre, cheia de vícios é verdade, mas uma rua cheia da vida periférica que sempre a construiu. Entretanto, nos últimos dias já não se vê o amontoado de pessoas d’antes.

Até a semana passada, havia garotos que se acumulavam na ponte e na escadaria do morro para empinar suas pipas coloridas. Nesses dias, já não ficam mais lá. Os alcóolatras, em seus grupos de partilha, ainda resistem. Trabalhadores passar com máscaras já é uma rotina visual.

Percebe-se a identidade das pessoas nas máscaras, nas cores e desenhos escolhidos. "Eu quero essa máscara!" Diz a menininha passando com sua mãe, que com passos apertados e olhares nervosos sorriu para a pequena.

As fofoqueiras fofocam de suas janelas mesmo, agora gritam seus despautérios à distância. A zombaria, certa tarde, deu lugar ao silêncio - "fulano de tal morreu". “Né a filha de Dona... irmã de...?” “É!” Mais um silêncio.

A verdade é que o morro está mais silencioso! Hoje o Brega deu lugar ao Gospel, ainda que acompanhado da mesma cerveja amarela de antes. Assim findou-se Abril naquela rua. Assim começou-se Maio. E que Deus proteja a todos!

Rosália Cristina
Enviado por Rosália Cristina em 05/04/2022
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