Joana e o Gato
Joana tem um gato
O gato é cinza escuro rajado de cinza claro tal qual são rajados todos os gatos rajados.
Joana não gosta de animais em geral, mas do gato, Joana gosta.
O gato ganhou coleira, caixa de excrementos, ração para filhotes, xampu e carinho.
Em troca o gato dá miados roucos e dengosos tal como tentando chamar atenção.
Joana também pede atenção ao gato. Ambos tem a companhia do outro.
O gato de Joana não tem nome. Tinha quando Joana pensava que o gato era gata. Mas as bolas foram crescendo e agora o gato foi desnomeado.
Joana se acostumou a chamar o gato de "gato". Não consegue entender porque as pessoas se aborrecem com o fato do gato nao ter nome.
Na verdade, Joana nem é o nome dela. O nome dela é Katia. Mas ela prefere Joana. Nome de guerra. Acha estranho aquela porção de sons curtos ecoando em seu ouvido significando algo relacionado à sua pessoa que a obriga a olhar, atender, responder. Ela não gosta do que ouve. Pensa que por ser grande de corpo seu nome deveria ser grande tal qual.
Na verdade ela precisa ser grande. Imensa, enorme.
Ela precisa voar. Se espalhar, evaporar e seguir com o vento. Nua, em pó.
Voando, grande como a maior nuvem.
Com ou sem o gato.
Mas o nome não ajuda. Nem rima tem no nome, nem à lingua pátria a inicial do nome pertence. É só uma agregada enfalfada ali pelo modismo de outrora.
Ela acredita que se as pessoas pudessem escolher seu próprio nome, seriam mais felizes.
Entao surge a ideia de escrever o alfabeto em pedaços de papel e deixar o gato brincar com eles. Até que surja o nome que o próprio bicho escolheu. Ideia absurda, você diz. Mas, de qualquer forma, ela o faz. Escreve o alfabeto em pedaços de papel. Joga os pedaços para cima e espera o gato pegar um. Repete o processo por 4 vezes (já que o gato é pequeno, não precisa de um nome grande).
Agora o gato escolheu seu nome.
O nome do gato é Pida.