LIRISMO FLUMINENSE
O LÍRISMO EM LUIZ LEITÃO
Nelson Marzullo Tangerini
Brasil dos Reis, em seu soneto “Luiz Leitão”, demonstra – ou pensa - ter conseguido ler profunda e perfeitamente a alma inquieta, boêmia e satírica do “parisiense” Luiz Antônio Gondim Leitão - seu companheiro de copo -, como veremos, mais adiante, neste livro.
Aqui, nesta crônica, republicamos dois sonetos do poeta fluminense - com fumos de romantismo -, tirados do livro “Lili Leitão, o poeta de Niterói”, de Alberto Valle, Editora Icaraí, Niterói, RJ, 1988.
Feliz e amoroso, o poeta escreve este soneto para sua noiva:
“NOIVOS
Ei-los noivos, enfim. Ao lado um do outro, agora,
Reina intérmina paz de intérmina alegria.
Ele calmo e feliz, contempla-a, fita-a, e a adora;
Ela, a sorrir de amor, contente, o acaricia.
Num céu pleno de luz, o amor os avigora,
Na luz de um novo sol que aquece e que irradia:
Ele, doido por ela, em céus abertos mora;
Ela, doida por ele, em sonhos se extasia.
Ei-los noivos, enfim; risonhos e amorosos,
A sonhar, a sonhar castelos luminosos,
A uma existência em flor que todo o amor abranja.
Nova fase feliz na vida se destaca!
Ele, alegre, a pensar no claque e na ressaca;
Ela pensando, a rir, nas flores de laranja!... “
E quando a jovem morre, o abalado noivo escreve mais um soneto para ela:
“NOIVA MORTA
Que alegria! Ela, sempre quando vinha
O noivo amado à tarde procurá-la,
Um galanteio, um riso doce tinha
Ao pedir que ele entrasse para a sala.
E, depois, que harmonia, aquela fala!
O rosto dela, que prazer continha!
Ele, como ficava a contemplá-la!
Como aquele amizade os entretinha!
Como eram ternos! Entretanto tê-la
Quis Deus no céu e arrebatou-a, ao vê-la
Tão feliz, dando aos pais profunda mágoa!
E ele, o noivo, o mísero, coitado,
Desde que a noiva é morta, o desgraçado
Tem sempre os olhos, sempre, rasos d´água!”
No último verso do 2º terceto de “Noiva morta”, Lili faz uma “licença poética" para conseguir a rima correta, porque não se diz “Flor de laranja", mas, sim, “Flor de laranjeira”, uma vez que é a árvore que dá a flor, e não a fruta. Perfeito.
Enfim, havia tristeza na alma alegre, espontânea e satírica do poeta? Tristeza esta que não era percebida por seu inseparável amigo Nestor Tangerini?
Quem bebeu da “Água escondida” - significado de Niterói, em Tupi -, poderá desvendar o que escondia a alma do poeta, pois, como escreveu Fernando Pessoa, modernista português, “O poeta é um fingidor”.