Não me avisaram que seria assim.
Foi em um mês de maio, mais precisamente em um dia 13.
O médico anunciou de forma estranha :
-Pai, é um menino, mas por um "pedacim" assim.
Gesticulou com a mão, complementando sua piada sem graça.
(Devia repetir sempre quando um pai aflito perguntava querendo saber o sexo do recém nascido).
Naquela época não se fazia tantos exames de ultrassom, por isso saber se menino ou menina era quase sempre uma surpresa para todos.
Também não tinha essas "coisas" de filmar nascimento.
Nascer era um evento sem tanto "glamour" como hoje.
Para começar a vida, para complicar, minha mãe secou o peito, e pior que foi depois de algum tempo que o pediatra descobriu porque aquela "criatura" chorava sem parar, e não se desenvolvia como as outras crianças "normais".
-Esse menino está é com fome, precisa de leite materno. Concluiu o doutor após um exame clínico detalhado.
Desta forma mobilizou-se todos os conhecidos da pequena cidade, para ir em busca do líquido precioso.
Leite materno,esse era o "remédio", o único capaz de fazer o rebento sobreviver.
A caça pelo "ouro" rendeu muitas diligências com êxito em alguns casos, mas também algumas estórias lúdicas e constrangedoras, como a vez que a madrinha Sônia ao bater em uma porta e uma senhora muito idosa, respondeu mostrando as mamas apontando os dedos com uma certa irritação:
- Olha minha filha, daqui já não sai nada... e há muitos anos, viu.
Apesar da dificuldade, fui nutrido com a ajuda de caridosas almas que se empenharam para a empreitada na busca da solução.
Tudo porque não haviam recursos como hoje, mesmo, assim com tanto desenvolvimento a ciência ainda afirma que nada, e nenhum outro alimento tem tantas substâncias protetoras para a imunidade e desenvolvimento das crianças, como o leite materno.
Graças a ele, sem esquecer a determinação da madrinha,
Sobrevivi.