Sizenando

Segundo Rubem Braga, havia, em 1960, um certo Sr. Sizenando Mendes Ferreira, morador do município de Iporá, em Goiás, que acordava cedo e sintonizava o rádio para ouvir aulas de Esperanto. Ele devia honestamente acreditar que ser fluente em Esperanto poderia ser vantajoso e estava disposto a abrir mão de uma ou duas horas a mais de sono todo dia para atingir esse objetivo. Um pioneiro do "miracle morning". Sizenando pode ser um personagem inventado por Braga, mas prefiro acreditar que ele foi real. Simpatizo com Sizenando.

Quando eu tinha por volta de 13 anos, frequentei por meses um curso de datilografia. Parecia ser uma forma produtiva de usar meu tempo. Eu me juntava a outros adolescentes e ficava por uma ou duas horas brigando com uma Olivetti ou similar, machucando os dedos nas teclas duras. Enchia uma folha tamanho A4 com ASDFG ASDFG ASDFG ASDFG ou ÇLKJH ÇLKJH ÇLKJH. No fim da aula a professora contava os erros, se fossem mais de 10, tinha que refazer o mesmo exercício no dia seguinte.

Eu gostava de ler enquanto esperava meu amigo terminar a lição. Na prateleira tinha gibis da Turma da Mônica, um do Wolverine, umas revistas Mad dos anos 90, um exemplar bem surrado de Os Meninos da Rua Paulo, um de aventuras do Perry Rhodan e o romance Memória do Futuro, uma ficção científica de autor brasileiro, Alberto Lopez Torres. Lembro de tudo isso, mas quase nada sobre datilografia.

Desnecessário dizer esse curso jamais constou em nenhuma versão do meu currículo.

Renan S F Almeida
Enviado por Renan S F Almeida em 03/04/2022
Reeditado em 27/04/2022
Código do texto: T7487295
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