O AVISTAMENTO

Era sete de Março, de mil novecentos e setenta, um sábado ensolarado, de pouquíssimas nuvens brancas, estava eu, um garoto de apenas onze anos, encarregado da missão de uma tarefa que me dava muito prazer, além de me sentir útil e responsável, sentia grande satisfação em fazê-lo.

Montado no alazão “Fantasma” seguia num trote macio, enquanto os outros cinco equinos nos seguiam um pouco atrás, chegando no estábulo, desmontei e conduzi os cavalos para as suas respectivas baias e o alazão que me levaria de volta, ficou pastando.

O pequeno estábulo, estava localizado na cabeceira do Rio, uma ribanceira alta, na margem norte, a direita da ponte de ferro de Igapó, ponte essa que ligava Igapó a Cidade do Natal.

Era costume deixar os cinco cavalos na estrebaria e voltar no alazão “fantasma”, só que nessa tarde especialmente, um acontecimento inédito, mudou tudo.

Voltei correndo, numa dispara enlouquecida, entre tropeços, açoites de galhos e esbarros sobre troncos caídos. Saí da mata todo lanhado, com vários arranhões, galos na cabeça e sujo de barro e terra, dos tombos que tomei durante a correria, de longe avistei a casa da Tia Ana, uma construção de boa qualidade, com três quartos, cozinha grande, duas salas, uma varanda em volta de toda a casa e um banheiro que ficava em anexo na saída que dava para o quintal.

Na varanda estavam o Tio Cícero, esposo da Tia Ana e dois trabalhadores da fazenda, amigos da família, o portão estava aberto, empurrei-o e entrei estabanado e sem freio e só parei na cozinha, onde estava a Tia Ana, preparando o jantar.

-Tia Ana, Tia Ana, Tia Ana, gaguejava eu

-o que foi menino? Perguntava a Tia

Tio Cícero e os dois amigos já se encontravam na cozinha também, todos querendo saber o que havia acontecido de tão trágico.

-eu vi, eu vi, eu vi, continuava eu na gagueira

-viu o que, doido, perguntava mais uma vez a Tia Ana, tentando manter a calma.

-eu vi um troço voador, falei ainda tremulo

- que troço, um gavião? Indagou a velha senhora

- não! Uma coisa grande e prateada, parecia um prato virado e muito grande, voando sobre o Rio Potengi, ficava flutuando, quase tocando a água, desabafei

- tome essa água com açúcar, se acalme e conte tudo devagar.

Depois de alguns minutos já mais tranquilo, comecei a narrativa:

- Aconteceu o seguinte, chegando ao estábulo, desmontei do alazão e coloquei os cinco cavalos nas suas respectivas baias e como de costume, me voltei para o rio, para contemplar mais um pôr do sol no Rio Potengi, que naquele momento estava incrivelmente iluminado,

Já passava das 17:00 horas, o sol quase se pondo, o céu enchendo-se de um vermelho sobrenatural, tingia o horizonte, as nuvens, o azul celeste e as aguas do Rio Potengi, de um dourado extasiante, era o instante do apogeu do arrebol, um momento único e magico.

Fiquei esperando o sol se pôr, como fazia em todas as tardes, só que aconteceu o inusitado; de repente um enorme objeto voador, surgiu pairando sobre o Rio Potengi, sobrevoava silenciosamente rente as águas, quase tocando-as, ficou assim, quase parado por alguns segundos e sem mais nem menos, foi saindo lentamente e num instante, ganhou uma velocidade descomunal, foi ficando miudinho, miudinho e sumiu, falei como desabafasse, sentindo-me aliviado.

Todos ficaram de olhos arregalados e em silencio por alguns segundos, para em seguida, estourarem em gargalhada, fiquei sem graça e já ia saindo, quando recebi o golpe de misericórdia:

-para onde você vai, perguntou tia Ana.

-vou beber agua, respondi quase gemendo.

-antes, vá até o armazém e traga três sacas de milho, determinou a velha.

- três sacas de milho? É muita coisa, como eu faria isso? Resmunguei.

-fácil, peça ajuda aos homenzinhos verdes, da Nave Espacial que você avistou hoje! Determinou a tia, antes de novamente, caírem na gargalhada.

Sidney China

FIM