A barata, ressuscitada!
A barata, ressuscitada!
Não tenho culpa, sou cronista. Estou pouco me lixando pelo que meu mestre Freud explica. Gosto mesmo é do auê, do folclore, do cochicho em torno do medo existencial.
Sou de família numerosa, 10 irmãos. Tirando as três irmãs, sou o único, entre os outros machos, capaz de dar um tapão numa barata, apesar de reconhecer que isto não garante nada.
Tenho um amigo que lida com as baratas de modo químico, ele sempre tem à mão dois tubos de inseticida. Qualquer vulto rastejante, esvoaçante que suas antenas captam no seu ambiente, seja cozinha, quarto, banheiro, sofá, corredor, guarda roupa nem pensar, ele saca dos tubos e pulveriza, pulveriza e, alvejando o indiscreto inseto de asas envernizadas, meu amigo, distante, regozija e deixa os restos mortais para a diarista que vem amanhã!
Houve um dia que a peleja foi tanta, que meu amigo precisou recorrer ao Pronto Atendimento, intoxicou!
Uma de minhas afilhadas preferidas hoje me fez ressuscitar a barata. Ela me contou que semana passada em seu apartamento, não lembro bem, no terceiro andar, apareceu uma barata, deste tamanhão! Ela sozinha, claro, entrou em pânico. Seu pai, o salvador, à mais de 100 km de distância. Suando frio, quase desmaiando, apelou para a solução possível aquela hora da noite, 22 horas. Esgueirando pelo canto das paredes conseguiu chegar à porta da sala, destrancou e correu corredor afora, só parando em frente à uma porta, onde bateu desesperadamente, pedindo socorro. Por felicidade era a porta da síndica. Esta, descabelada, indagou a razão de tamanho desespero, sabe lá Deus o que já passava em sua cabeça, ao ver uma jovem, morando sozinha, naquele alvoroço. Minha afilhada, toda tremula, conseguiu balbuciar, me acode, me socorre, não me deixe morrer, é uma barata... uma barata enorme!
A vizinha... a síndica... com um riso amarelo, deixando de lado os pensamentos obscuros de há pouco... acalmou minha afilhada. Demorou um pouco, sei lá porque, correu lá dentro, pegou dois tubos de inseticidas deu um para minha afilhada e foram, não muito ligeiras, enfrentar o monstro alado. Chegando lá, para felicidade das duas, nada encontraram e não tiveram de digladiar com rival tão temeroso. Aí a síndica, já senhora de si, aconselhou minha afilhada sobre os cuidados para impedir nova invasão, e foi, desta vez, ligeiramente se aconchegar na proteção de seu apartamento. Minha afilhada, é claro, não dormiu. Passou a noite armada com o tubo de inseticida esperando um novo ataque do monstro existencial!
Aí, sem mais nem menos, minha afilhada, uma das minhas preferidas, me deu uma dica, o medo existencial, não é de barata, é medo da dor!