DESPEDIDAS
(Extraido do livro "Tute - Brincadeira de Papel” do autor Samuel De Leonardo – Tute)
“A hora do encontro é também despedida, a plataforma desta estação é a vida” (Milton Nascimento e Fernando Brant)
Conte nos dedos quantas são as vezes em que você se recorda da ação e do cumprimento de chegada em um encontro qualquer. Agora conte quantas são as vezes em sua memória que ocorreram as despedidas. Eu fiz a minha aferição, não pretendo sugestionar o leitor, mas confesso que, ao menos na minha contabilidade, as despedidas deixam mais cicatrizes que as chegadas. Se por um lado a expectativa de algum encontro provoque ansiedade e até mesmo frisson, o adeus acaba por deixar sinais indeléveis que se transformam em saudades.
Eu bem sei que determinados encontros podem deixar marcas, mas as manifestações de adeus essas são duradouras, por vezes doloridas, pois podem ser a última vez daquele contato. As chegadas podem até ser lembradas, mas determinados momentos de despedidas são inesquecíveis. Pode ser o derradeiro adeus a um ente querido, o até breve daquele amigo, o último dia de aula com a turma, o último beijo da pessoa amada, o acenar das mãos na partida, a última dança de uma noite especial, ainda, a última vez naquele lugar. É como se houvesse um tênue vazio na linha do tempo, sem volta, daquele instante do último ato, transformado em epilogo.
Seria muito confortável se pudéssemos detectar no que se transformaria aquele momento de despedida, por mais simples que fosse. Por muitas vezes não percebemos que aquele instante poderia ser o derradeiro, quais cicatrizes deixaria em nossa pele e quão duradouro permaneceria em nossa memória até emergir do infinito de nossas reminiscências.
Uma vida é construída com interações com outras vidas. As simples idas e vindas da rotina diária compartilhadas com tantos personagens pode, mais cedo ou mais tarde, manifestarem-se de acordo com a relevância daquele instante. Cada ser ao longo da existência tem relacionamentos diversos com outros seres. Esses relacionamentos podem ser com vidas identificadas ou anônimas, mais intenso com uns, menos amplitude com outras. Tem pessoas que nos marcam independentemente dos minutos vividos e compartilhados, mais pela intensidade do relacionamento mútuo, da troca de energias entre ambas. Com aqueles com os quais mantivemos contatos mais profundos, com maior cumplicidade ou afetividade, com certeza os momentos se consolidaram e as despedidas ficaram registradas com solidez em nossa memória.
O fato é que a cada despedida de uma pessoa querida aflora a ausência trazendo um vazio imenso e uma saudade sem fim. O tempo se encarregará de mensurar a importância do momento vivido e o manterá bem guardado no arquivo do coração, cuja senha a denominamos de saudade.