Em que mundo vivemos?
Já parou pra pensar que existem vários mundos num só? O planeta é o mesmo, mas não o mundo.
Classe média, 3º grau, especialização, bem nascido, 2 casamentos, 2 filhos bem criados, bairro nobre, todos os itens necessários ao conforto, à dignidade e à segurança....
Bem informado, assisto (e leio) jornais nacionais e internacionais: política pra cá, escândalos pra lá, catástrofes naturais, corrupção, corrupção, corrupção, guerras, refugiados, desumanidades, tráfico, covid, covid, covid, use máscara, faça isolamento social, lave as mãos... beleza, dá pra lidar com tudo isso.... não trabalhe, mas pague as contas e continue se alimentando – até aí, tudo bem, acho que dou um jeito – exercitando-se, sendo saudável, psicológica e fisicamente e, acima de tudo, sendo feliz (ahahahah – daí já é piada – mas continuemos fingindo que vivemos em Nárnia).
Mas.....
Quem sou Eu mesmo?
Qual é o meu Mundo?
Que fração represento deste enorme universo humano em que vivemos, sem olhar para o lado e percebermos a coexistência de outros universos abitados por seres pertencentes ao mesmo planeta que o nosso?
Dia desses precisei ir à um lugar bem diferente dos que frequento. Dei uma passadinha em uma comunidade carente...
Tive um grande choque anímico! Percebi que aquele não era o meu mundo, o mundo do usar das máscaras, do lavar das mãos, álcool em gel, água na torneira.... Nem sei se nesse mundo ouviram falar de covid, ou de doença, ou de hospital, ou de saúde, ou de moradia, ou de condições básicas de subsistência. Acho que roupas, alimentos, banho, higiene também não eram conceitos bem definidos por lá. Reparei também, nesse mundo, a impossibilidade do tal distanciamento social, ou mesmo qualquer coisa social... Não sei se trabalham ou comem como nós, de forma sistemática.... acho que não....
Cheguei em casa um tanto confuso e consternado.
Liguei a TV.
Chamada de um telejornal.
Preferi desligá-la a fim de mantê-la íntegra, afinal, teria que comprar outra depois.
Sentei, entrei em estado de catarse interior.
Onde a equidade, ética e caridade?
Por que a fome, violência e maldade?
Qual o limite do descaso com os desafortunados? Sem chances ou oportunidades, desagregados, famintos, esfarrapados.
Onde a consciência dos abastados? Nada temem? Burlam leis, apenas para acumular o que não podem gastar, às custas dos que sofrem, arrastam-se, mendigam, choram as lágrimas da falta, sofrem os danos da revolta? Amamentam em secas tetas famintas criaturas destinadas ao fado de seus progenitores?
São os crucificados pelo crime de nascerem?
E nós, em nossos castelos de areia, isolados em nossos mundos inflados, consumidores tresloucados, bits, bytes, reais, tudo se compra pela net, usamos máscara e álcool em gel, compramos alimentos superfaturados, trabalhamos em home office e reclamamos por não frequentarmos mais o shopping, de só podermos encher a cara em casa, assistir à NETFLIX. HBO e TELECINE, por termos que, insuportavelmente, enfrentarmos nossos profundos abismos interiores, convivermos com nossos familiares, criarmos nossos filhos e conviver com nossos cônjuges.... enlouquecedor? Já deu uma passadinha no mundo que existe logo ali? O mundo dos socialmente renegados?
Quando eu crescer e evoluir, quero reencarnar como um gato!