CALE-SE, GENERAL, PORQUE A SUA DEMOCRACIA NÃO NOS SERVE !...

 

 

Os senhores generais associam a democracia no país à simples eliminação dos chamados "esquerdistas", "comunistas" ou, como preferem, "subversivos".

Dentro dos seus quadrados, escondem da história seu amor à Operação Condor (aquela ave carniceira dos Andes):  uma aliança entre os ditadores militares de seis países latino-americanos (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai), que atuou secretamente desde a década de sessenta - muito bem paga e controlada pelos Estados Unidos -, com o objetivo principal de transformar em "carniça" todos os líderes ou ativistas de esquerda, mesmo suspeitos, que se espalhavam no Cone Sul.  Bastava ser um intelectual ou trabalhador sindicalizado, falante, para incomodar o Senhor Feudal norte-americano:

"Kill them" - e os senhores obedeciam... e os senhores matavam.

Quem não fosse vassalo desse "Senhor", ou melhor, quem não prestasse continência ao maior ditador das Américas, fatalmente era tido como "comunista", logo, deveria ser condenado à morte.  Depois de denunciadas ao mundo livre algumas realizações absolutistas e sigilosas da Operação Condor, o general Pinochet resolveu oficializá-la, sediá-la no Chile, entre 25/11 e 01/12/1975, numa oportunidade em que comemorou os dois anos do assassinato de Salvador Allende. 

Segundo o lema da Operação Condor, nenhum desses seis países assumiria a "causa mortis" dos seus "subversivos", os quais, simplesmente condenados, sem direito de defesa e enquanto vivos, eram transportados de um país para o outro e, quando sacrificados, seus nomes passavam a figurar na longa lista dos "desaparecidos".  Em seus países de origem, aparentemente, reinava um clima da mais absoluta paz - "Lavabo manibus meam" - todavia continua muito extensa, ainda hoje, a lista de hermanos à época "desaparecidos".  Só não se sabe - nunca se saberá - em qual desses países os "subversivos" viraram "carniça"... 

Importa lembrar que todos os generais ditadores e torturadores dos outros cinco países já foram julgados e condenados por esses crimes hediondos cometidos e premeditadamente escondidos pela Operação Condor. Repito: todos os generais ditadores e torturadores dos outros países...  Só os carcarás dos outros países...

É essa a sua democracia restaurada, senhor general?!...

Em 30/abril/1981, um grupo de militares armou bombas que explodiriam à noite no saguão do Riocenter.  Atribuiriam a chacina aos "comunistas" que, ali reunidos, em festa, celebrariam o Dia do Trabalho a partir de zero hora.  Enquanto isso, no estacionamento, dentro de um carro Puma, uma das bombas explodiu no colo e matou um dos três militares que a montavam.  O SNI ainda tentou atribuir esse ato de terror aos esquerdistas, mas um dos militares sobreviventes, felizmente, confessou o crime.  Ufa!...  Quem sabe, foram os mesmos que montaram com êxito aquela bomba que explodiu no Aeroporto dos Guararapes, em Recife, não?!...

É a isto que o senhor chama de democracia restaurada, senhor general?!...

Lembra, general, que foi a ditadura militar que, ainda em 1964, arrancou todos os ramais ferroviários do país, com a desculpa de serem deficitários, mas que, na verdade, tratou-se de um ato em represália ao mais forte e organizado sindicato dos trabalhadores de então - o sindicato dos ferroviários?!...  Lembra que o consequente nivel de desemprego não foi sequer divulgado?...

Alguns anos depois, não bastasse a elevada dívida externa, veio a crise mundial de petróleo, do qual o nosso país ainda não era autossuficiente.  Pagávamos esse combustível em dólar.  Aí, a inflação disparou durante todo o resto dos vinte e um anos de ditadura. Inflação extratosférica que só pôde ser debelada e controlada no final do século XX.  Uma herança maldita do regime absolutista a que os Estados Unidos nos impuseram desde os idos de 1964.

Mas o senhor general diz que, na ditadura, não houve crise.  Pasmem!...  

No pós-ditadura, uma das maiores crises por que passou o país foi durante a greve dos caminhoneiros, cujas raízes estão fincadas lá nos arbítrios cometidos a partir de 1964, quando, por decisão entre quatro paredes, a ditadura arrancou os trilhos dos principais ramais das ferrovias do nosso país, conforme citamos.    Uma irracionalidade que afetou nossa economia até hoje e ainda afetará "per omnia saecula".  Uma crise que ainda pode parar o país por muitos anos, porque, para o escoamento de nossas riquezas agrícolas e minerais, deixou o país totalmente refém dos caminhoneiros.

Uma herança burra e esverdeada, do tempo em que as decisões eram tomadas em sigilo nos quartéis.  Hoje, para prevenir greves, o governo prepara pacotes de bondade para essa categoria (a dos caminhoneiros), muitas vezes mais forte do que o antigo e muito perseguido sindicato de nossas ferrovias.

Por favor, general, se o senhor não participou dos movimentos das "DIRETAS JÁ"

- e sei que não participou -

- e sei que o seu pai também esteve ausente -

Cale-se!... 

Não nos serve a sua "democracia" inclemente e subserviente!

Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 01/04/2022
Reeditado em 28/04/2022
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