A bruxa.
Uma amiga se revelou bruxa, e não bastando tal constatação transcendental, me afirmou que meu futuro estava traçado. Fiquei curioso, afinal, se meu futuro está escrito, minha felicidade se tornou uma questão de encontrar mais rápido o atalho. Por amizade, achei que fosse conseguir essa informação. Ledo engano.
Fico indignado com essas situações onde notícias grandiosas não venham acompanhadas de detalhes, penso que se voce é capaz de saber "que", deveria ao menos buscar com seus poderes saber "como". Ninguem explicou pra ela que forma e conteúdo não são coisas que se equivalem?
Lamentei profundamente.
Mas ela foi além. Ela me disse que nunca amei ninguém.
Já descrente com aquela conversa toda, contrargumentei: "defina amor". Ela não conseguiu, mas ficou repetindo a frase mais clichê que se poderia ouvir numa situação dessas: " Você sabe do que estou falando".... Típico de gente que não sabe o que está falando, e quer encontrar no ouvinte algum tipo de gatilho pra preencher o vazio da sua (pre)visão. E, de fato, eu não sabia mesmo: a ignorância tem as suas vantagens.
Depois de algum constrangimento, perguntei como andava seu casamento, e as respostas foram as piores possíveis.
Aproveitei a oportunidade, e perguntei se ela amava o seu marido, e ela respondeu que sim, e logo ficou ruborizada de vergonha, por saber que chegamos no ponto central de uma questão que ninguém pode fugir: interpretação depende de critério e método, e na vida alheia, a sua régua é unidade de medida que de nada serve.
Por fim, fiquei sem previsão se futuro, sem saber o que é amor, e acho que acabei de perder a amiga.
Aliás, será essa a previsão que ela tinha para me fazer?