DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 7; Dia 8)

Dia 7

15 de abril de 2026

Não suporto aquela cidade.

Se tudo correr bem essa foi a última vez que fui a São Paulo.

Pelo menos, pela minha vontade nunca mais volto lá. E já não teria ido se essa merda de companhia elétrica não tivesse matado minha pesquisa.

Felizmente tudo deu certo. Meus alunos são realmente brilhantes.

Ainda bem que esses dois conseguiram refazer meus testes naquele laboratório fenomenal.

Bom eles me devem isso, pois ajudei a montar aquela joça.

Se fosse pelo reitor eu nunca mais entraria no laboratório dessa universidade. Só porque pedi demissão no meio daquele projeto. Mas ele queria desvirtuar o objetivo: estava deixando de ser pela saúde da população e visando o lucro do financiador.

Na verdade ele não engoliu eu ter pedido demissão e ameaçado denunciar os esquemas que ele montou pra ficar com parte das verbas de financiamento…

Meus alunos não entendem como pude deixar de lado as pesquisas e a carreira universitária pra me embrenhar “naquele fim de mundo da amazônia”, como eles dizem.

Eles não entendem que atender às necessidades do povo é mais gratificante que o nome num artigo científico que vai ser lido só por meia dúzia de iniciados.

Mas deu tudo certo.

Desta vez nenhum posto policial me fez perder tempo. Só as barreiras de pedágio. Outro sistema larápio que nosso mundo produziu. Com a conivência dos nossos dirigentes. Roubam o povo pra engordar os megaempresários.

Agora tenho que acelerar os trabalhos, senão o presidente viaja e não leva meu produto. E se perder essa oportunidade não terei outra, para colocar meu produto no mundo todo. E o mundo não experimentará minha solução.

Dia 8

17 de abril de 2026

A vizinha, hoje está deslumbrante.

Lembro do dia que o marido dela morreu. Um acidente horrível. Uma fatalidade!

Para a fatalidade não existe explicação. Quem diria que um passeio de bicicleta resultaria em decapitação?

O sujeito sai para se exercitar, pedalando sua bicicleta e acontece aquilo.

Aliás, ainda não entendi como o cara se desequilibra da bicicleta em cima da ponte. Cai no rio e sua cabeça é decepada num fio de arame estendido pelo desmoronamento da cabeceira da ponte, provocado pela enchente.

O vão da ponte é bastante alto, mas será que o peso do sujeito era suficiente para dar velocidade e produzir um impacto de cortar o pesco do sujeito quando ele caiu?

Mas foi essa a explicação para… sei lá…

Bem ela não teve nada com isso. Tinha viajado para visitar sua mãe… e aquela mocinha que fazia limpeza da casa do casal não era assim tão atraente pra eles terem um caso e a vizinha se vingar…

Bom, deixa pra lá.

Deixa eu me dedicar ao meu trabalho.

Mas que ela ficou muito mais bonita depois de viúva e depois de ter recebido o seguro de vida do marido, isso não se pode negar!