O erro do Arcebispo no
escândalo de Munique
1. Os grandes jornais do mundo voltaram ao escândalo de Munique, envolvendo padres católicos e um Arcebispo. Os padres, acusados de abusos sexuais de menores de idade e o prelado de não ter mandado investigar as denúncias que chegaram ao seu conhecimento; para, confirmadas as acusações, punir os sacerdotes pedófilos. Restou pairando no ar suspeita de acobertamento, o que será o fim da picada, se confirmada a omissão proposital do nobre prelado.
2. O arcebispo envolvido, na época titular da arquidiocese de Munique, era o Teólogo Joseph Aloisius Ratzinger, eleito papa em 14.4.2005, com o nome de Bento 16. Os crimes - 497 vítimas - teriam acontecido entre 1945 e 2019. A bomba só estorou depois que Ratzinger tinha renunciado ao trono petrino, no dia 28 de fevereiro de 2013.
3. Bento 16 vive hoje, velhinho, na sua condição de ex-papa, recolhido a uma das confortáveis dependências da cidade do Vaticano, segundo consta, rezando e escrevendo, apesar dos seus 94 anos de idade. Que viva ainda por muitos anos e nos deixe abençoados livros; como os que até aqui escreveu cheios de sabedoria e santidade.
4. Todo mundo sabe que Bento 16 não foi um papa simpático como foi seu predecessor, o elegante João Paulo II. Foi um papa acanhado, retraído, não afeiçoado às barulhentas multidões. Notava-se a sua preferência pelo recolhimento. Antes de ser papa, foi um impecável acadêmico, um doutor da Igreja, um teórico. Evangelizava, através dos seus belos livros. Nunca cuidou diretamente de rebanhos como um simples padre de paróquias ou bispo de dioceses. Foi sempre um padre de Bibliotecas, para dizer melhor.
5. Sobre o escândalo de Munique, parto do que publicou, recentemente, a Folha de São Paulo. Que restou apurada e confirmada a prática de pedofilia pelos tonsurados da arquidiocese de Munique na gestão do arcebispo Ratzinger. E o pior: que o cardeal Ratzinger não havia adotado providências, punindo severamente os sacerdotes infratores sob seu comando e guarda.
6. Em carta, que nos últimos dias divulgou, Bento 16 afirmou que não sabia de nada. Na mesma missiva, porém, admite, sem se julgar responsável, que erros teriam acontecidos durante seu pastoreio à frente da arquidiocese de Munique. Perdoe-me o ex-papa (sim, ex-papa), mas fica dificil acreditar que Sua Santidade não tivesse conhecimento dessas irregularidades. Rigoroso, como sempre foi na apreciação das virtudes e dos defeitos de sua Igreja. No final, limita-se a pedir desculpas às vítimas dos padrecos safados.
7. A julgar pelo que diz a imprensa, no meu entender o nosso Bento 16, nesse episódio, foi fraco ou acovardou-se. Não provou que era um Pastor intransigente, punindo os padrecos pedófilos. Liás, sua fraqueza - timidez? - manifestou-se às claras, quando renunciou ao Báculo papal. Não se arriscou, é o que se diz por aí, a enfrentar os purpurados, senhores cardeais, os malignos, que ainda dominam a Santa Sé. Perguntem ao Papa Francisco, lutador incansável por uma Sede Pontifícia, afinal, limpa. Dizem que no Vaticano acontecem coisas que nem Deus percebe.
8. Na sua carta, sua sabedoria foi tão grande que escreveu o seguinte: "Em breve, estarei diante do juiz final de minha vida". Deixou para Deus a dura tarefa de julgá-lo pelos seus atos, no condenável escândalo de Munique. Não devemos, nós, pobres mortais, condená-lo às profundezas dos infernos.
Censurá-lo, sim, e sempre...
Completo, dizendo que não apenas no Vaticano, mas na Igreja Católica, a minha Igreja, acontecem coisas que até Deus duvida.