A ESCOLA E A MEDICALIZAÇÃO PARA A LINHA DE MONTAGEM. (Vocês estão preparados para essa conversa?)

POR JOELMARINHO

 

Estou no serviço público há sete anos como professor, um ano concursado por uma prefeitura e seis anos concursado pelo estado o que já me dá uma dimensão de horizonte e uma bagagem mediana para abordar esse assunto o qual está me trazendo bastante, eu diria, “sofrimento”, perceber as escolas como uma linha de montagem e, portanto, podendo descartar ou enquadrar aqueles que não se encaixam no esquema, seja através de medicação para equiparar os comportamentos, seja com a exclusão total do processo com base em uma política bem parecida com a eugenia grega espartana do passado.

Observo isso como uma enorme preocupação, principalmente diante aos discursos vazios vindos daqueles que dirigem os setores da educação de que “a escola é para todos”, “o respeito as adversidades”, “acessibilidade” como forma de criarmos cidadãos mais responsáveis, críticos e cientes de suas obrigações e direitos.

Então, viva o “NOVO ENSINO MÉDIO”, este método inovador, “só que não”, na verdade é o velho método de transformar pessoas em “máquinas” para servir de “peças” nas linhas de montagens, com um adicional, a criação de pessoas obedientes e que aceite de forma tranquila e calma sem ousar reclamar. A começar pela escola.

- Está fardado, menino?

- Sim, senhor ou senhora!

Regras: todos na mesma caixa.

Filosofia, Sociologia e até o estudo da História, para que isso serve mesmo? Não, não, isso é perigoso, vamos cortar dos pobres e deixar com os mais ricos, os cabeças “pensantes”.

Opa, mas o tal do Joãozinho, aquele que virou lenda porque sempre aparece batendo de frente com seus educadores não se encaixa nessa caixa. Então o que faremos com esse “talzinho” desaforado?

Mete a palmatória, coloca no canto com o joelho no milho ou na pedra para doer mais e põe nele uma orelha de burro para servir como exemplo a não ser seguido na sala de aula, afinal é somente ele o problema na linha de produção!

- Ei, calma! Não pode mais fazer isso, pois o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não deixa, alguém pode filmar e a “cagada” estará feita.

Então qual a saída?

Joãozinho é autista ou tem Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outra síndrome qualquer, não importa, o importante é encontrarmos uma solução para essa “peça” ruim antes que ele desencaminhe toda a sala.

(Só para deixar algo claro aqui por conta muitas vezes da dificuldade de interpretação de texto, não estamos dizendo que essas doenças ou síndrome de fato não existam, elas existem e quanto mais cedo detectadas melhor o tratamento, porém temos muitas crianças sendo diagnosticada e tratada a base de remédio somente porque não se encaixam na caixa dessa engrenagem maldita).

Enfim, agora como Joãozinho não pode mais ser castigado fisicamente criou-se o mecanismo para ele tornar-se parte da engrenagem e para isso inventamos os fármacos, as chamadas pílulas da felicidade eterna, o “amansa leão”.

Poxa, mas Joãozinho tem tanto talento com a música, ele até gosta de escrever poesias e cantar aos seus amigos no horário da merenda.

Não, não pode, escola é para aprender português e matemática e a História talvez, se for de maneira mecanizada ao estilo século 19, como: “Em qual ano Pedro Álvares Cabral aportou ao Brasil”? Nada de querer saber as intenções de Portugal ao mandar ao Novo Mundo a esquadra de Cabral.

Filosofia? Tá maluco! E se os meninos aprenderem que estão sendo explorados pelos seus líderes políticos e religiosos e começarem a querer ir de encontro a toda essa mentira a qual inventaram e apresentaram como verdade absoluta?

E se eles passarem a se interessar por política e descobrir o valor que tem seu voto? Nunca mais seremos eleitos e/ou reeleitos. Nosso sentido religioso cai por terra e com “DEUS” não se mexe!

Não, isso não, jamais!

E assim seguimos a nossa série de baboseira, reuniões escolares sem nexos as quais não levarão a nada, pois de fato naquilo que deveria ser mexido, elaborado que são as questões estruturais e conjunturais ninguém se preocupa, ou melhor, quase ninguém, entretanto, os preocupados acabam sendo soterrados pela máquina sanguinária do sistema.

E assim seguimos, sem pátria, sem glória sem nada.

Mexer no currículo é preciso sim, mas sobretudo tocar nessa estrutura intocável para criarmos uma nova conjuntura seria o ideal, porém quem está no poder não está preparado para essa conversa, ou seja, mudança de fato na educação é apenas uma utopia, discursos bonitos, porém reticentes e às vezes inaudíveis.

Enquanto isso vamos mudando de táticas para encaixar a todos os alunos dentro de uma caixa e aqueles inadaptáveis vamos medicando e tornando-os uma “máquina” sem reação pronta para obedecer ao comando sem ter um pensamento próprio e sem críticas contra seus exploradores.

Está “revoltado”? Então toma-lhe Rivotril e cala a boca!

E quando estudamos os espartanos ou algumas tribos no Brasil que praticavam a eugenia ficamos extremamente chocados, mas nem passa por nossa cabeça o mesmo choque ao vermos crianças sendo diagnosticadas com inúmeras síndromes sem de fato ter nada de doença e medicada somente para o encaixe perfeito no sistema.

É, a eugenia do passado não é mais a mesma, não se mata mais criança por não se encaixar no esquema mecanicista como era feito no passado, matamos aos poucos com efeito de remédios que custam caro, enriquece as grandes farmacêuticas e robotiza as crianças de uma forma perversa e imoral muitas vezes matando grandes talentos não aproveitados porque há uma pré-disposição de um ser humano perfeito para servir ao sistema pré-estabelecido.