Nem todo mundo vai se curar nesta vida. É importante que aceitemos e entendamos isso. A ênfase perpétua em reconhecer e curar traumas é uma coisa linda, mas não é para todos. Porque alguns de nós não têm a capacidade de curar.
Alguns nem conseguem sair da cama, por causa do peso da dor e da complexidade do trauma. Muita coisa aconteceu e não há possibilidade de transformação. Isso é muito difícil de aceitar em nossa cultura de positividade tóxica, onde trauma é a nova palavra da moda e onde as pessoas esquecem que não estão andando no lugar de outra pessoa.
Só porque você foi capaz de curar partes do seu passado, não significa que todos podem curar partes do seu. Todos nós vivemos em uma cultura indutora de trauma. Alguns de nós não conseguiram passar inteiros. Isso é um fato. E se pudermos aceitar isso, honrá-los e confortá-los como são, sem nenhum esforço para “curá-los”, na verdade temos a chance de co-criar o tipo de mundo sensível ao trauma que evita completamente esse nível de sofrimento. Porque o trauma é perpetuado pela insensibilidade.
Nossa tendência de fechar os olhos para a verdade do sofrimento das pessoas, envergonhá-las por não se curarem, culpar seu carma e suas escolhas, é precisamente a consciência dissociativa que perpetua o ciclo do trauma. Você quer ajudar, mas só piora. Melhor aceitar as pessoas exatamente onde elas estão. Melhor proporcionar conforto aos caídos. Só isso vai curar o mundo.