Croniquinha linguística V

Bartô liga para Carlos:

– Rapaz, eu te passei o celular do Ari; eu errei, preciso ratificar...

– Não,não, não... Você vai retificar o número.

– Já me vem você com esse jeito de discente catedrático de universidade!

– Desculpe-me, mas aí já seria docente e não discente. E eu não sou docente de universidade alguma.

– Sim, sim... Mas fica com esse jeito professoral.

– Apenas leio e uso cuidadosamente as palavras. E só corrigi, porque você é meu amigo; senão...

– Me deixava falando bobagem, né? Outro dia comentei isso com minha mulher. Ela foi ao mercado, está na eminência de chegar trazendo aquela cervejinha. Pena que você não esteja aqui.

– Pena! Mas, desculpe-me, não é ‘eminência’, mas ‘iminência de chegar’...

– Sim, ela está quase chegando, né?!

– Perfeito...

– Desculpe-me... Esses detalhes, Carlos, às vezes me passam desapercebidos...

– Não duvido! Só que é despercebidos...

– Puxa! Errei outra.

– Confundiu-se. Só isso. São palavras muito parecidas.

– Ainda bem que não se escandaliza. Afinal, na conjetura atual tem tanta coisa pra gente se preocupar que uma palavrinha trocada aqui e acolá não há de perturbar a vida.

– Concordo! Mas é ‘conjuntura’, ouviu?

– Conjetura é?

– Hipótese, suposição...

– E você? Animado com o preito? Fiquei sabendo que ocê é candidato a síndico aí?

– Verdade, verdade... Não tem ninguém para o cargo. Será um pleito... pleito tranquilo...

– Sim, pleito. Essa minha mania de trocar o ele pelo erre. Já notou?

– Tenho notado, e ‘preito’ é outra coisa, ouviu?

– Tem isso?

– Bartô, Bartô, preciso tanto de falar com Ari. Me passa o número... Retificado!!!