Tsunami de emoções
As águas de março inundaram meus olhos, e a retina ficou embaçada por causa de um vazio no horizonte. Não vejo mais o verde além dos muros, nem o arco-íris após a chuva, e não é por falta de expectativas, mas de um tempo bom. Em um dia você sorrir, noutro, os olhos deságuam. Parece que o homem veio ao mundo para ser pagador de promessas, e suportar o peso da cruz exige um esforço extra. Por ser um filho degredado e infeliz, não merece nada, tudo é dado por misericórdia e estado de graça. Entretanto, para alcançar a graça, e a graça não é de graça, tem que chorar muitas pitangas. Só de escrever isso, já pequei, pois o pecado não mora ao lado, é uma eterna companhia, tipo amigo oculto. Não se vê, mas ele existe. E, como tudo é ofensa, o homem tornou-se peregrino para merecer perdão. E, nessa odisseia estou sobrevivendo cheia de arranhões, machucados que não irão sarar, e as cicatrizes lembram as tatuagens que não gosto de ter. Um tsunami de sensações, impotência, resiliência, medo, insegurança e solidão. Nem sei mais o que pensar, sentir, e o pensamento divaga entre a esperança e o desalento. Paciência eu até tenho, o que falta-me é o tempo para esperar. Elevo meu pedido aos céus para merecer um cantinho do olhar de Deus, e confesso que é de um jeito tímido, pois como pecadora de fábrica, o socorro é sinônimo de milagre. Espero que Papai do Céu tenha misericórdia de mim e lembre-se que também sou sua filha. Nem conheci Eva para herdar tanta preocupação, agora já foi, parente não se escolhe. Enquanto o milagre não acontece vou ralando o joelho.