O Bará

Jogou muita bola o Bará, que hoje já é a forma abreviada e afetiva de se referir ao Sabará. Duma família de quatro futebolistas, talvez não tenha sido tão pioneiro quanto o Pinduca, veloz e insinuante como o Hamilton, ou mesmo habilidoso e brilhante como o caçula Derlúcio, foi certamente o mais longevo dos minino do Geraldo Preto. Dentro e fora das quatro linhas, como costuma definir aquele que tá passando da hora de já ir...

E o Bará foi vereador também, guindado à edilidade graças à sua enorme popularidade. Hoje, setentão avançado, ele pode ser visto no principal eixo comercial da cidade, outrora praça da estação, muito à vontade, camisa regata, sandálias e uma folgada bermuda. Do nascer ao poente, sempre abordável, brincalhão e reflexivo... Peça a ele a melhor escalação de um Clube Atlético Pitangui, o alvi-rubro CAP, e ele, modestamente, é capaz de declinar um viril Queirós, mas omite o próprio nome de pia, que, suponho, seja José Maria.

Sua semelhança fisionômica com o famoso Sabará, um dos maiores ídolos do glorioso Vasco da Gama, ao lado de Dinamite, Bellini, Romário, Vavá, Pinga, Almir, o Pernambuquinho, Edmundo, é acachapante, vai fundo...e literalmente, é deste mundo...

E por falar, o imortalizado Sabará que era de registro Onofre Anacleto de Souza, curiosamente não proveniente de nossa Sabará das jabuticabas, da igrejinha de Nossa Senhora do Ó, ou do Chafariz do Caquende - logradouro tema do belíssimo poema de mesmo nome do poeta divinopolitano Osvaldo André - mas nascido em Atibaia, São Paulo e iniciou sua carreira profissional na Ponte Preta, a Macaca, de Campinas.

E numa manhã dominical dessas, hora ainda de muito pouco movimento da zona comercial da cidade, dando um giro de automóvel com mamãe, que beirando os noventa e quatro anos de idade, com a vista já cansada, ei-la que me pergunta, num sobressalto:

- Uai, Paulo, aquilo ali é um boneco...?

Volvi os olhos, já fazendo a curva, e me deparei com um contemplativo Bará, em seu traje costumeiro, contemplando o céu anil, já quase de abril ...quem o vê, quem o viu...comoveu, viu?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/03/2022
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