TUDO É MOMENTO.

Acordei às seis horas da manhã, é parte da minha rotina nesse novo ano. A escola da minha filha fica a cem metros de casa, o que me permite levá-la sem carro. Minha esposa também ajuda, na verdade, ela é quem levanta primeiro e prepara o café. Um pequeno lanche e achocolatado para acompanhar, é nossa rotina de todos os dias. Terminado de fazer o lanche, minha esposa volta a dormir, é nesse ponto que eu entro em cena, minha parte é levar minha princesa até a porta da escola. No retorno eu tomo caminho da padaria, que é perto, relativamente à mesma distância da escola, só que no caminho contrário. Vou a passos lentos.

Compro sempre três pães, não mais do que isso, é sempre a mesma quantidade todos os dias. Essa passou a ser outra rotina. Nesses pequenos trajetos gosto de ficar observando as pessoas, seus rostos, fisionomias distintas, cada um a seu jeito. Sorrisos e gentilezas de uns, rostos fechados de outros, cada um à sua maneira. A padaria é o ponto de encontro de muitas pessoas, algumas prontas para o trabalho, passam, trocam meia dúzia de palavras e saem, outras estão retornando, essas, desejam apenas um café e irem logo para suas casas descansarem.

Retorno para casa a passos lentos, a cabeça martela muitos pensamentos aleatórios, lembranças de tempos passados, vivências que eu desejaria muito que voltasse. Porém, o tempo não para, não volta atrás, é sempre contínuo e constante. Houve uma época em que eu trabalhei em uma metalúrgica, há alguns anos atrás, nessa época, quando eu saía do turno da noite, fazia a mesma rotina que muitos fazem hoje na padaria mencionada. Observando-os, vejo quanta falta faz àquilo que na época me parecia tedioso. É natural de nós seres humanos, falhas criaturas, desprezamos o momento presente, para no futuro, em outras situações, percebermos o quanto perdemos.

Quem me vê caminhar, a passos contados, nota que não estou bem. Não é exatamente um problema de saúde, dor ou coisa do tipo - embora, verdade seja dita, estou sim doente e com dores, mas não quero falar sobre isso agora - Acontece que meus problemas são de ordem psicológica, interna, está lá no mais profundo, no âmago da alma. É uma dor diferente de todas que já senti, é uma sensação estranha. Às vezes, eu olho para as pessoas, as coisas, é como se nada disso estivesse ali... Eu sei que é maluquice, mas é assim que eu me sinto.

Chego em casa e deixo os pães na mesa da cozinha e volto para a cama na intenção de aproveitar um pouco do que restou do sono. Logo mais terei que me levantar, e outra tediosa rotina acontece. Todos os dias sempre a quase insuportável repetição. No entanto, não posso reclamar, ainda que a vida em si, a minha, pareça estar à beira do abismo em todos os aspectos que vocês puderem imaginar, tenho que viver como se tudo estivesse perfeitamente bem. Essa falsa alegria, o falso sorriso, minha falsa maneira de viver alegre está prestes a mudar, eu sei que sim. Mesmo porque, tudo é momento, nada dura para sempre.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 27/03/2022
Código do texto: T7481851
Classificação de conteúdo: seguro