O ESPECIALISTA

Ainda há poucos dias estava no mercado à procura de uma boa carne para a ceia de natal. A fila estava enorme. Parece que cada cliente, de quilo em quilo, arrematava um boi inteiro. Para passar o tempo inventei de puxar assunto com o vizinho da frente. Não fiz bom negócio. O sujeito era um daqueles “especialistas” em corte de carne e já foi logo fazendo um discurso envolvendo outras pessoas na conversa. “Por que tem cabra”, dizia ele, “quem nem sabe diferenciar uma picanha de um coxão duro,” e contava como já havia pego no pulo e desmascarado diversos açougueiros velhacos. Mas foi dito e feito; quando chegou a sua vez, especulou diversos cortes, questionando o açougueiro, que por sinal era ainda muito jovem. Por fim, decidiu por uma boa peça de picanha e pediu que não cortasse nem muito fino nem muito grosso, o que achei estranho, pois o cara que é churrasqueiro mesmo gosta de levar a peça inteira e cortar ao seu feitio. O rapaz, pegou a chaira, e começou a afiar a faca. E o especialista de olho vivo, procurando pelo em ovo. O moço virou a peça ao contrário como se fora começar o corte na parte que ainda estava recoberta com aquela capa de gordura, filamentos e sebo. Pronto: O especialista deu o grito: pode parar! Sou algum palhaço agora? E já foi logo dando uma palestra. O rapaz continuou indiferente afiando a faca. Por que você virou a peça ao contrário? Pra cima de mim, amigo? Acha que eu estou dormindo de toca? Então o rapaz olhou firme para ele e disse: “Por que eu sou canhoto! Algum problema”? Pensa em um especialista embaraçado! Seu rosto ruborizado ficou da cor da picanha. E eu, voltei para casa com uma boa história para contar.