Interações sociais na era digital
Confesso a vocês que sou péssimo participante de grupos sociais. Não domino a etiqueta necessária nem tenho inteligência técnica e emocional suficiente para interações digitais. Não tenho a dedicação que, às vezes, acho que deveria ter e, por outro lado, acho que perco muito tempo com isso. A Internet tem seu fascínio, ela ainda representa uma revolução para mim. Quando eu nasci, nos anos 1950, ela não existia. Oficialmente, ela “nasceu” em 1969, mas se esparramou a partir dos anos 1990. Trinta anos depois e eu ainda não sei usar, não domino suas facilidades, tenho muitas dificuldades e me assusto com os usos que fazem dela. Só eu?
O que ocorre com as redes sociais na Internet é reflexo do que acontece na “vida real” — com receio de usar termo tão impreciso, optei pelas aspas. Os ódios e os amores, para ficar nos extremos, sem me render aos dualismos, não são específicos das redes. Diante de sentimentos exacerbados, a tendência é evitar confrontos, e muita gente pensa em “regras” de convivência. Tais regras não são novidade, estão presentes nas mensagens de e-mails e em outras formas de comunicação digital. Não sou estudioso do assunto, mas penso que estamos longe de estabelecer um consenso quanto a elas, se é que chegaremos lá. Há um mundo que se modifica a cada instante.
Nesse contexto, digital e social, vejo a política, de modo geral, como um fator de tensão. Não é por outro motivo que, enquanto muitos grupos foram criados para discutir especificamente a política, em outros há um apelo para “não se discutir política”. Eu tenho uma certeza: não há vida sem política. Isso não significa que os grupos que não foram criados com esta finalidade devem se submeter à política partidária ou à propaganda política. Importante: se há uma regra essencial, esta deve ser a recusa firme aos fascismos, ao racismo, à misoginia, à homofobia e à violência contra grupos frágeis.
Quem define as “regras”? Só pode ser o grupo, democraticamente, com o devido respeito à legislação. No caso dos grupos formados a partir de ambientes fechados, como grupos de empresas, de condôminos, grupos de família etc., os participantes acatam as regras ou abandonam o grupo. Mas é bom saber que existem grupos sem regras, além dos grupos que se transformam o tempo todo.
Parte desse mundo novo — admirável? —, capturado, legal ou ilegalmente, por grupos políticos e empresariais, tornou-se a arena na qual se disputam corações, mentes, tempo e dinheiro dos usuários. Aliás, certos políticos e seus patrões, sem ignorar os ingênuos e os disseminadores de notícias falsas, a gente sabe o que querem das redes sociais. Existem alternativas? A construção de um futuro mais igualitário e inclusivo passa pela democratização da informação.