CRONISTA DE UM MUNDO SADIO

Há cenários que despertam em mim sensibilidades, e me chega uma vontade de ser cronista de um mundo sadio. Num planeta do bem, onde a luz de Deus irradie todos os homens. E fico me perguntando se esse mundo é possível?!

Então me volto para o início e o término de cada dia. De lá nos vêm lições, e reflexões, e calmaria. É quando somos instigados a parar, a pensar e a perceber muito mais do que vemos. É assim que acontece: a vida se mostra suave no alvorecer e tranquila no ocaso. É como uma brisa. Ou como um afago. Ou como uma melodia agradável que ninguém cansa de escutar.

Porém a vida não é só isso. Plangentemente, não. O mundo não é tão sadio como mostram esses cenários, esses momentos, essas vivências.

Eu queria, e como queria que fosse assim! Pois anseio por escrever sobre sociedades saudáveis, mas não me contento se não descrever o que existe na vida real.

E para escrever sobre flores que perfumam é preciso notar as pétalas que caem, pois lamentavelmente a leveza da poesia não impede que a alma humana sangre no dia a dia. Alguns dias. Muitos dias. Todos os dias.

Então entendemos que ser sensível é enxergar o que está por baixo do band-aid. E nunca ignorar.

E ter perspicácia é perceber que há pêlos escondendo as unhas dos animais que arranham, e que muitas vezes são assim as relações de criatura para criatura: abrem cortes, deixam feridas, ardem de dor. É essencial ter sensibilidade, mas é urgente ser perspicaz.

Talvez seja isso o que registra o salmo 141, ao escrever "guarda-me dos laços que me armaram; e dos laços corrediços dos que praticam a iniquidade".

Há laços armados para fazerem o mal. Laços que prendem. Laços que destroem. Laços que simplesmente nos laçam e nos tiram a liberdade.

Eu não queria escrever sobre isso, mas ignorar o mal não o torna inexistente. Então falo também sobre Deus, a quem dedico minha confiança. Não deixo de olhar para Ele, e lhe pedir que olhe para mim, e por mim, e ao redor de mim. Para me guardar dos laços armados, das unhas sob os pêlos, e me livrar de feridas que sangram a alma.

Eu não queria falar sobre isso, pois prefiro falar sobre um mundo sadio, um planeta do bem. Mas infelizmente é necessário falar!