A PACIENTE E SEU UNIVERSO CAÓTICO
“Hoje passei parte da sessão chorando. Desperdício de tempo? Não mesmo! Havia em mim uma dor sem nome, sem explicação, mas tão profunda, que cheguei a pensar que morreria se não me permitisse chorar, sem qualquer reserva.
É medo o que tenho. Muito medo. E culpa. Por que tanta coisa dá errado? Por que eu não consigo dar conta das minhas obrigações? Fracassei tanto, errei tanto, fiz tanto! E olho para trás, parece que não fiz nada.
O que é essa dor no peito, me sufocando, me reduzindo a esse ser medíocre que chora de medo?
Eu chorei. Ah, como eu chorei! Era a minha fragilidade e eu naquele consultório. As palavras não saíam. Eu só precisava de um canto pra chorar sem ser julgada. E a terapeuta respeitou, pelo menos até o ponto de me dizer que eu, e ninguém mais do que eu, teria que resolver ‘isso’.
Bom seria se eu tivesse com quem dividir esse meu momento, essa minha angústia, esse meu desespero, tudo MEU! E essa falta de chão? Chego a pedir a Deus ‘ei, olha pra mim, vem em meu socorro!’
Tanta coisa pra eu resolver! E, definitivamente, eu não consigo. Admito. E isso é perturbador!
Éramos eu e meu cansaço ali, naquela sala. Muito cansaço. Enquanto chorava, eu pensava no quanto preciso de um tempo pra mim. Talvez outra vida não me bastasse pra resolver toda essa confusão que eu sou. Não estou dando conta do que vivo, nem do que quero viver. E o tempo está passando...
Pouco mais de uma hora de sessão, pouco mais de uma hora de choro.
Saí da sala extremamente exausta. Pior do que quando entrei. E com uma dor de cabeça dos infernos, pra completar.
Na verdade eu queria alguém com quem eu pudesse conversar sobre isso... isso que estou sentindo, mas sequer sei definir. Menos ainda falar sobre. É muito difícil.
A única certeza que eu tenho é que não dou conta sozinha dessa imensidão aqui dentro. E isso me dá medo.”