PAUPÉRRIMO

Ontem à tarde, durante uma conversa sobre assuntos triviais a respeito de suplementos alimentares, sem pedantismo e de forma natural, eu falei para uma jovem em meio a nós que o solo brasileiro é paupérrimo em magnésio, daí a importância de ser suplementado como outros tantos minerais necessários para o nosso organismo. Ela olhou-me meio sem graça, mas demonstrando surpresa, até mesmo espanto, e perguntou-me o significado da palavra. Sem dizer qual. Imaginei que se tratasse do magnésio e passei a explicar seus inúmeros benefícios... mas a garota me interrompeu dizendo que gostaria de saber sobre a palavra paupérrimo, termo que ela nunca ouviu. E, claro, certamente também não leu.

Então quem ficou chocado fui eu, que não esperava encontrar alguém desconhecedor do superlativo absoluto sintético do adjetivo pobre. Não, a moça nunca ouviu falar na palavra paupérrimo, portanto, de maneira didática e paciente, longe de mim a arrogância porque muita coisa, e acrescente muita mesmo, eu não sei, esclareci sua dúvida. Grata, ela suspirou sorridente afiançando ter descoberto mais uma palavra para o seu vocabulário. No íntimo, ouvi mil perguntas de minha alma no tocante à ocorrência de surpresas assim, mas todas sem resposta.

Será a falta de leitura habitual de livros a razão desse desconhecimento? Terá culpa o uso intermitente do celular no cotidiano em detrimento da leitura sadia? Ou o problema estaria no ensino proporcionado nas escolas? Compreendo, e nesta despretensiosa cronica não vai nenhuma crítica, senão o aturdimento de que fui possuído, sei que ninguém tem a obrigação de saber tudo, sem dúvida, e não me ouso petulante para controverter a assertiva. Mas, convenhamos, desconhecer o vocábulo paupérrimo? Parece-me por demais corriqueiro dize-lo, escreve-lo, cita-lo naturalmente. Por favor, dêem-me um desconto e não me entendam mal, estou apenas atônito, embora paupérrimo de argumentos e incapaz de continuar dissertando mais sobre essa seara. Por oportuno, e antes que digam sobre a falta de oportunidades sentidas por muitos no caminho do aprendizado, informo que passei muitas necessidades na infância, dada a precariedade financeira de meus pais, e ia para a escola municipal usando chinela de dedo, muitas vezes com um prego. Quando o prego não sustentava mais, eu ia descalço com ela na mão.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 21/03/2022
Reeditado em 21/03/2022
Código do texto: T7477464
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