DOMINGO CINZENTO


Domingo, outono de 2022, 13:00 horas.
Um dia cinzento, com ares de frio e prenúncio de mais chuva pela tarde.
E, porque é outono, o cinamomo da casa vizinha vestiu-se de amarelo e ,por igual, algumas folhas do meu pessegueiro desprendem-se sobre a calçada.
Tudo tão quieto, aconchegante, um tanto nostálgico.
Mas existem as compensações, e como existem !
À minha frente o livro que recebi do meu amigo Julio Bronislawski, uma biografia de seu pai, lançado na noite de sexta feira passada.
A dedicatória tem a sutileza de Julio e me vem nestes termos:
"Amigo Joel.
Com carinho e admiração por sua escrita, que nos envolve na mesma atmosfera lírica de Irati."
Fico lisongeado e vou ler esta preciosidade em meu local de trabalho, na parte da tarde quando o movimento é muito pequeno.
São gestos desta natureza que fortalecem o nosso gosto pela vida, nos ajudam a superar as situações adversas que costumeiramente conspiram contra o nosso bom desempenho.
E por falar em "atmosfera lírica"...
A minha sala está imersa neste instante na frieza tão comum de dias carrancudos, quando o cinza vai se estabelecendo feito um invasor.
Divido com ele - o cinza - os espaços das paredes onde um quadro da amiga Eva Costa e aquarelas de outra amiga de longa data,Lisy Telles, esprestam colorido neste começo de tarde de silêncios e devaneios.
Vêm-me à lembrança antigas tardes ensolaradas, natureza pincelada em tons de bronze e aquelas casas singelas por onde a gente passava, onde havia sempre alguma visita chegando.
Mes amigos e eu, estávamos sempre pelos caminhos,tipo...Chutando latinhas de cerveja.
Cabelos bem penteados e obedientes a elevadas besuntadas de "Trim", calça boca de sino, camisa colorida,pente no bolso traseiro e cabeça à mil.
De repente...
Feito um rolo de filme, daqueles bem antigos, algumas cenas desfilam em minha memória:
A torta de pêssego no café da tarde na casa da futura sogra (na época) , meu cunhado e eu, ambos enamorados das filhas de dona Josefa, nossas poses de domingo, aquelas "conversas moles" de românticos pares esparramados (ou agarradinhos) em comprometedores sofás da sala.
[ A gente namorava naquele tempo.Só depois d e casado é que ficava-se ]
Depois, a seção de cinema no lusco fusco e os inesquecíveis saraus do clube polonês fechando as noites de domingo.
As saidas do cinema e Rita Pavone encantando o trecho com a "Fortíssimo!", uma de suas mais belas canções.
Ah! Aquela minha cidade, de ruas de paralelepípedos ainda, embrulhada numa fina colcha de organza.
Eram as brumas de outono ofuscando delicadamente a frouxidão das luminárias, forçando o retirar dos guarda roupas das velhas e surradas jaquetas que preservavam os cheiros do frio da estação do ano anterior.
E os abraços aconchegantes sequestravam delas, a delicadeza de "Unforgetable" da Avon, o must da época.
Então as brumas delicadas de outono vestiam de tule as luas daquelas noites enquanto a namorada era devolvida no portão de casa e uma saudade precoce era parceira de nossos passos mastigando o silêncio do começo das madrugadas.
O tempo passa, o tempo nos envelhece, cobre de brumas os nossos cabelos, e as lembranças retomadas através do espelho nos fazem velhos pretenciosos ,calvos ,se achando o máximo!
A tarde prossegue acinzentada, quieta e propagadora de lembranças.
Eu aqui...Alugando a paciência de quem me lê.
Um abraço a todos e curtam no link abaixo a doçura de Riitinha, a "Pavone"

https://www.youtube.com/watch?v=jxuzr_ebOf8
IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 20/03/2022
Reeditado em 20/03/2022
Código do texto: T7476919
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