Não, meu caro Chico...
1. Não vejo porque não dizer que o Chico Buarque foi fraco na defesa de "Com Açúcar, com Afeto", sua genial composição. Condenou-a ao esquecimento aceitando, pacificamente, a crítica de nossas queridas feministas, que chamaram a canção de ma-chis-ta. Não aceito a crítica das feministas porque a tenho como injusta; e não concordo com a posição do Chico, que não condenou a crítica feita. Não, meu caro Chico...
2. A Folha de São Paulo, de alguns dias atrás, trouxe uma longa matéria sobre a crítica das feministas. Nessa matéria e em outras que circularam por aí, encontrei força bastante para escrever esta página. Tenho certeza absoluta que cairão de pau em cima de mim. Pouco me importa. Acho que estou combatendo o bom combate ao defender, com intransigência, a canção "Com Açúcar, com Afeto", obra prima da MPB.
3. A matéria à qual me refiro dá destaque a posição do Chico acompanhando as senhoras feministas. Vejam o que o Chico disse: [As feministas têm razão. Não vou cantar 'Com Açúcar, com Afeto' mais. Se Nara (Leão) estivesse aqui, ela não cantaria certamente". Chico, com 78 anos, não consta que esteja gagá. E no seu prontuário, no seu currículo não consta que esteja com qualquer tipo de demência. Ele está lúcido; lendo e escrevendo; cantando? Nem tanto. É estranha, pois, sua declaração.
4. Não sei se o Chico tem razão quando afirma que Nara Leão não cantaria mais "Com Açúcar, com Afeto", se foi ela mesma que pediu ao autor de "Carolina" u'a música sobre uma "mulher sofredora". Diante deste mote, que haveria de se esperar do Chico, senão uma canção igual a "Com Açúcar e com Afeto". Foi corretíssimo o compositor Chico ao atender o pedido de Nara. Creio que ela jamais se recusaria a cantar essa bela canção.
5. Fulana, minha doce amiga, com o comportamento do seu marido coincidindo com o comportamento do marido da canção sob flexas, disse-me sentir-se feliz ouvindo, até altas horas, "Com Açúcar, com afeto", na voz inebriante da cantora baiana Maria Creusa, uma das intérpretes preferidas de Vinicius, o Poetinha. Alô Maria Creusa, como era bom te ouvir cantando "Eu sei que vou te amar"! Por onde andas? Te vi, dias desses, no YouTube, e senti saudades...
6. Ah, mas vc e suas amigas são de velhas gerações, idos de 1967, quando a canção do Chico foi lançada; estamos em pleno século 21, vão me dizer as senhoras feministas, e me xingarão pela posição que assumo em defesa de "Com Açúcar, com Afeto". Ora, ora, defendam suas bandeiras, suas causas, mas não procurem deslustrar, com teses vazias, uma das mais belas canções da Música Popular Brasileira. "Com Açúcar, com Afeto" nasceu para ser eterna. Ouviu, Chico? Volte a cantá-la; você só receberá aplausos.
7. Gostaria de trazer para minha crônica, na íntegra, a canção "Com Açúcar, com Afeto". Queria que a minha leitora lesse, ou até cantasse, versinho amoroso com este que colhi na canção: "Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato, e abro os meus braços pra você". Que há de machista nisso. Pela tese das feministas, as nossas mulheres estariam proibidas de terem maridos boêmios.
8. Olha, atenção, não falo dos boêmios trapaceiros, arengueiros, desordeiros. Há boêmios maravilhosos; que tomam sua cervejinha; que não se preocupam com a hora de chegar em casa; que gostam de futebol; que param no barzinho para conversar com os amigos sem danificar a convivência matrimonial. Condenável é aquele boêmio que chega em casa, distribuindo porrada. Esse, sou capaz de garantir, não é o boêmio que Chico cantou na sua bela canção..