FANTASMAS LITERÁRIOS.
Não é algo fácil começar uma crônica, buscar o assunto certo, colocar as palavras que estão vagando lá dentro para fora. Expressar o mundo interior em um curto espaço que é o disponível neste amado gênero tão brasileiro. Dizendo assim parece simples, mas acredite, não é... Acontece que esse mundo aqui dentro pertence ao ficcionista, o romancista, não ao cronista. Basicamente quem trabalha com esse tipo de texto tem de ser conciso, trabalhar em assuntos que versam com acontecimentos do presente e deixar de lado os muitos personagens que ficam gritando o tempo dentro da cabeça, dizendo mil coisas. Parece loucura o que estou dizendo, e na verdade é, porém, é um terrível privilégio esses fantasmas literários.
Voltando ao tema da crônica, não sei, ou melhor, não tenho a mínima ideia do que eu vou falar. Todos os possíveis assuntos me parecem tão repetitivos, como se eu estivesse dizendo a mesma coisa sempre, um papagaio tagarela. Apesar de que o mundo não me oferece muitas opções; guerra, política, corrupção, eleições, enfim, temas nada agradáveis de se digerir, há quem goste, quem escreva sobre esses assuntos, e admiro muito cronistas políticos, artigos de geopolítica, economia. Embora a mídia seja um prato cheio para se beliscar, do outro lado, termina por oferecer pratos tão mais corrompidos quanto os assuntos abordados. Basta assistir o primeiro noticiário e pronto, nada de novo debaixo do sol, todos os outros falaram a mesma coisa em momentos diferentes. A pauta é sempre a mesma para todos, mudando somente a ordem. Por esse motivo não gosto de ficar falando sobre tais assuntos.
Não sei ainda o que dizer, na verdade eu quero escrever sobre qualquer assunto aleatório, sem temas específicos.
Talvez eu diga sobre os sentimentos do coração.
... Confuso e teimoso coração que fica vagueando sem saber o seu destino, marinheiro dos sentimentos alheios, buscando mares nunca antes navegados. Sou uma vítima desse torturador de almas, carrasco e algoz, sempre machucando o peito em badalas desconcertantes. Talvez eu seja um eterno sofredor, derramando lágrimas por onde passava, espalhando os seus rastros de solidão e palavras aleatórias, talvez... Sou intenso na medida do próprio desespero existencial, buscando o incompreensível. A vida se tornou em uma eterna procura de qualquer coisa impossível de se achar. O coração é cheio de mistérios, terra de ninguém como dizem por aí. Será mesmo? Fico pensando nestas coisas, sentimentos que nascem repentinamente, bastando um olhar, um sorriso, ou a sonoridade da voz. Eu já busquei compreender esse órgão que batalha dentro do peito, quantos não foram os poemas em que me debrucei na tentativa de entendê-lo... Foi em vão, eu sei, por mais que eu me esforce, e coloque todo o meu intelecto na tentativa de esquadrinhá-lo, percebo como estou sendo feito de tolo, por fim, termino como dominado ao invés de dominador. A palavra é a ilusão de que se tem uma saída, quando na verdade não há...
Esse é o tipo de texto, palavras vagando dentro de mim nesse momento. Nada do que pede uma autêntica crônica. Enfim, hoje, por não ter exatamente um assunto definido para lhes oferecer, acabei por ficar - como se diz no ditado popular - enchendo linguiça. Espero que na próxima semana esse tagarela tenha assuntos mais robustos para vocês.