QUASE FUI PASSARINHAR
Hoje eu pensava em passarinhar, usufruir meu sábado observando os pássaros e seus cantos maviosos, perpetuando-os em fotos e filmagens para meu deleite e também para o caso de alguns deles - pobre humanidade! - entrarem em extinção. Infelizmente essa possibilidade não pode ser descartada como eu gostaria, as estatísticas estão em evidência mostrando a quantidade de aves e outros animais que já foram extintos ao longo da jornada humana, fauna e flora adentro.
Embora já tendo definido o lazer para este dia, atividade que desfruto vez por outra, cuja periodicidade me proporciona momentos de plena serenidade e completa paz, amanheceu chovendo, uma chuvinha fina mas constante, aquele aguaceiro descendo lento sem parar. Da janela do quarto avistei o céu cor de chumbo, as árvores do meu condomínio sem mover uma folha, os passarinhos calados e fechados em seus ninhos numa momentânea hibernação, a natureza inerte sob um banho inesperado vindo das nuvens túrgidas, a visão lá fora embaçada pela manhã penumbrosa, tudo em silenciosa conspiração para impedir-me de passarinhar.
As aves não entoam suas vocalizações quando chove, talvez não tenham motivos, ou quem sabe falta ânimo, sejam tomadas pela lassidão causada pelo tempo chuvoso. Preocupa-me a possibilidade de ainda não terem se alimentado, considerando a impossibilidade de locomoção enquanto a intermitente garoa prossegue. Nos dias ensolarados, elas passam o dia quase todo voando ou pulando pelo chão à procura do alimento, porém raríssimas aves conseguem voar sob a chuva. Então, certamente não comem. Quão dura a vida dos pássaros! Para mim, mero observador amador de passarinhos, é apenas um dia em que não posso passarinhar...para eles, no entanto, talvez sejam vinte e quatro horas sem se alimentar. Ou até que a chuva pare.