O prato da vez
Confesso que de culinária entendo pouco. Sei que se trata de palavra paroxitona terminada em ditongo crescente, apenas e nada mais. Aliás, contudo, todavia, no entanto, não e talvez, minto propositalmente e confesso. Aliás, sei também cozinhar ovos, difícil arte culinária em que consiste o ato de pôr ovos em uma panela com água fria, de forma que eles fiquem com pelo menos 3 cm de água acima deles, com a panela coberta por uma tampa ou sem tampa, em fogo alto ou baixo, até a água ferver.
Disso eu sei na prática, que eu já testei e deu certo, e sei também na teoria, que o Google com seus tutoriais me ensinou. Portanto, de culinária, eu conheço o lado gramatical e o dos ovos cozidos, e nada além, principalmente o que é "estrogonofe".
Não sei em que parte do corpo se localiza. A primeira vez em que ouvi a palavra estrogonofe, a mim, pareceu-me estrangeira desde o nascimento; a segunda, não tive dúvidas. Já faz anos esse primeiro encontro, e a cada dia a palavra torna-se espantosamente comum em meu cotidiano, para meu assombro. É no transporte complementar, no trabalho, no espetinho, no bar, no meio da rua meio-dia em ponto, em casa: lá está ela, enjoativa e polissílaba, a me cercar.
As pessoas, 99% delas, pelo menos, adoram pronunciar a palavra "estrogonofe". Ontem, dentro do complementar, ouvi de uma criança de não mais que cinco anos de idade, nos braços do pai, lhe dirigir a seguinte sentença: "Papá, quelo stogoff". Confesso que, apesar das ressalvas, fiquei com um tiquinho de vontade de provar a iguaria, que, se não fosse o professor Google, eu nem saberia que se trata de comida, mas de nome de pomada para calos.
Em 99% das vezes em que a palavra "estrogonofe" aparece em meu dia a dia, penso em Dindinha e sua sabedoria, quando dizia: "Meu fih, meu fih, tu vai vê coisa, tu vai vê coisa. E eu dizia: que nada, Dindinha, tá mentindo. Mentindo uma porra".