DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 1; Dia 2)
Dia 1
15 de novembro de 2025
Cansei de reclamar.
Relutei muito, tomei a decisão que vinha adiando há muito tempo.
Todos sabemos e todo mundo repete a mesma coisa: O mundo virou uma merda. As pessoas estão indo para o fundo do poço e parece que ninguém está se importando.
É a vida de gado que todo mundo leva.
Tinha razão o Zé Ramalho, quando compôs com o Alceu Valença, esse hino ao “Admirável gado novo”, quase uma paródia do “Admirável Mundo Novo” do A. Huxley:
“Vocês que fazem parte dessa massa que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber
……..
Eh! Vida de gado povo marcado e povo feliz
……..
O povo foge da ignorância a pesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade de verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível, não voam, nem se pode flutuar
…….”
O povo é assim: Faz festa com as tragédias.
Mas eu me importo com o mundo e com as pessoas. Por isso tomei esta decisão.
Vou fazer tudo sozinho pra não correr risco de ser traído ou para evitar que algum espertinho ponha tudo a perder com essa coisa de consciência pesada. Ou essa coisa de ética profissional.
Além disso, um plano simples como este, não tem como dar errado e nem precisa de ajuda de ninguém. Terei apenas que me aproveitar da boa fé de algumas pessoas.
Hoje o mundo começa a mudar. E se meu projeto der certo, e dará, a humanidade se endireita!... ou se acaba de vez.
Dia 2
30 de dezembro de 2025
Passei estes últimos dias analisando os comportamentos do presidente em suas postagens nas redes sociais.
É típico do seu perfil doentio.
Nada difere do tempo em que estudamos naquele colégio, naquele fim de mundo no interior do Paraná.
Continua egocêntrico e querendo se mostrar. Querendo mostrar qualidades que não tem. De sua boca não saem palavras positivas. Só xingamentos e palavrões.
O povo acabou se identificando e acreditando que esse comportamento era um discurso em defesa dos mais pobres e sofredores.
Nada.
É só barulho de uma mente vazia. Uma carroça vazia é sempre barulhenta...
Sei e tenho certeza do que digo porque discutimos muito nossos posicionamentos em relação à sociedade, quando participávamos do grêmio estudantil.
Depois que foi expulso do exército, não sei como virou líder sindical. Típico desse seu mau caráter aproveitador: Nunca aceitou ser pobre e ter que trabalhar para viver.
Já havíamos nos afastado quando ele enveredou por esse mundo tortuoso do sindicalismo, da política… Alguns dizem que até entrou para o tráfico.
Nunca acreditei, de fato, que tenha entrado para o tráfico… mas por outro lado, como explicar sua imensa riqueza, se toda sua família é pobre e ele nunca trabalhou? Como explicar tantos amigos ligados às milicias? Como explicar que seus filhos sejam sócios de traficantes e milicianos?
Claro que perdeu o polegar, naquele acidente quando tocava o pneu do carro do seu chefe, lá na fábrica de cabo de vassoura... e isso lhe rendeu uma bela indenização…
Alguns colegas, na universidade, disseram que fez aquilo de propósito…
Mas não posso afirmar nada. Estamos afastados há muitos anos...