BRASIL DOS REIS

SONETOS NECROLÓGICOS DE BRASIL DOS REIS I

Nelson Marzullo Tangerini

Na Roda Literária do Café Paris, Brasil dos Reis era o sentimental, sensível e exímio poeta que escrevia sonetos necrológicos para cada “parisiense” que partia.

Camões, em “Réquiem pela Natércia”, nos deixou um belíssimo soneto a sua falecida companheira chinesa Dinamene. Manuel Bandeira, com poemas dedicados a Mário de Andrade, entre outros amigos, também escreveu necrológicos em forma de poesia. O poeta satírico Luiz Leitão, após ter perdido a noiva e a mãe, movido pela dor e pela saudade, entrega-se ao lirismo, dedicando-lhes belos sonetos.

O mesmo aconteceu com Maurício Marzullo, autor de dois sonetos: um dedicado ao avô materno; outro, a avó paterna.

São da lavra de Brasil dos Reis, portanto, os sonetos dedicados a Luís Pistarini, Luiz Leitão, Mazzini Rubano, Max de Vasconcellos e Olavo Bastos, que ora são republicados nestas crônicas.

Vamos a Pistarini:

“LUÍS PISTARINI

Meu lírico sutil e apaixonado,

Ó desditoso e suava fantasia!

Como sentiste pela dor varado

O teu bondoso coração de artista!

Pelo amor, pela dor eletrizado,

Nem a glória suprema a alta conquista

Te deixou mais choroso e deslumbrado

Que essa visão que te deslumbra a vista.

Há ainda o perfil divino de Gerusa

Ainda pairando, certo, em cada poema

Que te inspirou a solitária musa.

Alma casimiriana, em teu lirismo

Eternizaste a dor na arte suprema

Tecida em mágoa e sentimentalismo.

Para Lili Leitão, Brasil escreveu:

“LUIZ LEITÃO

Foi essa a lira que espancou tristezas

E só feriu a corda da alegria,

Satirizando as terrenas belezas

E zombando do sonho e da utopia.

Fazia versos, às tontas, pelas mesas

Onde campeava a turba da boemia,

Deixando-se levar nas correntezas

Para o estuário largo da ironia.

Onde estava acendia-se o rastilho

Da verve, e a gargalhada esfuziante

Vibrava entre um soneto e um trocadilho.

E atingindo da graça a perfeição

Foi sempre forte, altiva e altissonante

A musa jovial de Luiz Leitão”.

Os dois sonetos de Brasil dos Reis, republicados acima, fazem parte do interessante livro “Os poetas satíricos do Café Paris – Clássicos fluminenses, Volume 9”, Organização: Luiz Antônio Barros, Editora Nitpress, Niterói, RJ, 2014, que merece uma leitura atenta por parte de pesquisadores e professores de literatura.

Um trabalho mais detalhado, porém, “Antologia dos poetas do Café Paris”, ainda sem editora, vem sendo preparado pelo autor desta crônica.

Na foto, o poeta angrense Brasil dos Reis.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 18/03/2022
Código do texto: T7475607
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