TERNURA
Aguça-me sobremodo a emoção ao refletir sobre a ternura, esse doce momento de ❤️ coração enlevado e embevecido por algo perceptível em não muitos, bem sabemos, porém mais ainda por ser ousado o bastante para elaborar um texto a respeito desse glorioso substantivo abstrato. Não para mim, garanto, visto que sou tomado por ela constantemente. Aura poética talvez? Talvez. Porque nesse belo vocábulo tudo tem a raiz do consolo, do aconchego, da vida no que ela tem de mais profundo nascido do brilho de sua maravilhosa luz. Confesso, não constrangido, mas feliz e seguro do meu devaneio: perpassou-me n'alma um calafrio de expectativa, verdadeiro cataclisma de sentimentos múltiplos, e no entanto foi alguma coisa maior, mais sublime e alvoroçada de candura e realização a companhia dessa ebulição sentimental em meu ser. Eu bem quisera definir a ternura, tolo que sou, sabendo que tem instantes na nossa existência nos quais somente enquanto o sentimos é possível entender, jamais conceituar. Por óbvio, assim acontece com ela.
Por outro lado, no atrevimento bem acima de minha capacidade cognitiva a que me propus de tecer uma linha qualquer de raciocínio no tocante à ternura e a pureza de seu lirismo, rebusquei-me no recondito, lá no fundo do baú do meu inconsciente, conscio de meus limites para tamanho empenho, o tanto dessa ternura vivida e revivida por mim ao longo dos anos. A que tive e ainda tenho, na esperança de continuar a ter até o último suspiro. E encontrei. Não muito, decerto, mas lá estava o rio sereno de amor onde a guardei e quase escondi para nunca ser compungida pela ignomínia do desprezo, imagino, seu antônimo; ou da dor, penso, seu antagônico. Reuni do amago tudo que pude para a consecução do objetivo, embora realista quanto a não chegar nem perto de atingir tão grandiosa meta.
Quem não teve o privilégio de vislumbrar a ternura nos olhos marejados da mãe ao abraçar o filho e po-lo no colo, não pode compreende-la nem descreve-la. Nem ao menos imagina-la. Porque vai muito além do sublime, está acima de qualquer sentido mais amplo que não venha do universo do amor, e não seria exagero nenhum afirmar ser a ternura um degrau levemente acima do amor. Provavelmente exista amor sem ternura, contudo estou absolutamente certo de inexistir ternura sem amor.