Amor estelar...
Todas as noites, as 22 horas e 22 minutos, as estrelas pegavam seus binóculos para observar os humanos, a fim de unir futuros casais. Se elas percebessem que aqueles dois tinham boas chances de se tornarem um par, elas começavam a agir. Mandavam sinais para instigar os pensamentos amorosos, elas eram muito criativas nas mensagens, que iam desde constelações com a forma do rosto ou nome da pessoa, até uma serenata exclusiva.
O relógio marcava 22:22, já era hora de começar o trabalho, só havia um detalhe, a estrela Amarelinha tinha perdido seus óculos, mas decidiu trabalhar assim mesmo, afinal se ela cometesse algum erro, o Destino se encarregaria de corrigir.
No decimo sétimo andar, na segunda janela, em Niterói-Rio de Janeiro, Layla admirava o céu, enquanto pensava nos diálogos que tivera com seus pacientes e colegas de trabalho. Enquanto a estrela maior brilhava, sua mente ecoava as falas do médico Vinicius. Ele era sempre muito inteligente, isso a atraia.
Antes de se deitar, ela riscou no cantinho de um caderno amarelinho, LayS2 Vini, e riu porque não fazia essas coisas desde os 16 anos.
Lá encima, a estrela Amarelinha observava a Layla, suas risadas e o quanto ela ficava feliz enquanto escrevia o nome do seu “amado” naquele papelzinho. Ela leu, e decidiu começar as etapas para união, só que tudo foi um completo desastre, porque ao invés de Vinicius e Niterói, ela enxergou Benicio e Nova York. Uma baita confusão.
A Lay começou a receber uns sinais estranhos, músicas sobre NY, passou a ver um rosto totalmente desconhecido, isso a intrigou. Ela nunca havia pensado mudar de bairro, que dirá mudar de país, pois sua felicidade estava em trabalhar no hospital local, e poder conversar com todos os moradores de sua rua.
Em Nova York, Benicio também estava intrigado, pois a única Layla que conhecia era a da música do Eric Clapton. Ele se perguntava quem era aquela mulher, e não entendia a inexplicável saudade que estava sentindo do Brasil.
No céu, o Destino foi conferir como estavam os processos de união. Todos os relatórios estavam corretos menos o da Amarelinha, pois ela fez uma bagunça danada com o último par. De primeira, ele ficou bravo pelo erro, mas depois de analisar com calma o possível “desastre” percebeu que há males que vem para o bem, pois esse casal tinha muito mais chances de dar certo do que o original. Por isso, decidiu não intervir, apenas executar o plano de união.
Só tinha um “pequeno” problema, a distância. Como eles se encontrariam? Através das redes? Ou quem sabe por causa de uma viagem?
Eles nunca entravam em apps ou redes sociais, só olhavam as mensagens de trabalho. Então a possibilidade de um amor virtual estava descartada.
Apesar desse impasse, o encontro iria acontecer. Pois, o Destino tinha um trunfo na manga, a dona Glória.
A dona Glória era uma senhorinha super alegre e comunicativa, amiga de todo mundo, que cativava a todos que a conhecia. Além disso, era a paciente favorita da Layla, e avó materna do Benicio.
Ela estava muito empolgada pelo seu centésimo aniversário, a ideia de completar aquela idade cercada por todos que a amavam era o maior presente que ela poderia receber.
Dia 22/02/2022, cem anos da Glorinha, e uma data palíndromo, que só repetirá em 2030. Nesse dia, tão cheio de significados especiais, mais um era acrescido a lista, o encontro de Layla e Benicio.
A festa começara, cheia da alegria contagiante da aniversariante, que fazia questão de ir de mesa em mesa cumprimentar seus convidados. Em meio ao colorido das flores, e a bossa nova, eles estavam lá, e nem sabiam que em poucos minutos a vida estava prestes a mudar.
Era quase 22 horas, e o Destino começou a executar o seu plano. Soprou no ouvido do DJ a música Layla e a Hey there Delilah, para instigar o pensamento do Benicio, e soltou na mesa da Layla uma pauta “aleatória” sobre a novela o clone, que remeteu automaticamente para o Murilo Benicio. O clone era novela favorita da Lay, e ela sempre que podia falava sobre esse era o gatilho perfeito.
As mentes estavam fervilhando prestes a ebulir, pois todos os sinais começaram a reaparecer naquele momento, mas ainda pairava a dúvida sobre quem era aquela pessoa.
Até o instante que o Beni foi conversar com a avó sobre a música, e depois de uma gostosa gargalhada, ela se lembrou que a sua enfermeira Layla era tão linda quanto a da canção. Glorinha se deu conta do quanto que as conversas do neto eram muito parecidas com a da Lay, e descobriu naquele momento que aquela apresentação iria transcender aquela noite. Depois de coloca-los diante um do outro, se afastou, olhou para o céu e mandou um beijinho para o Destino, e disse baixinho: “Já fiz a minha parte, agora faz a sua!”
Eram 22:22, e eles estavam de frente um para o outro, dialogando, conectando os gostos, as experiências, os corações, as almas, a vida.
Foi mágico, se uma palavra pudesse descrever tudo o que aconteceu certamente seria incrível.
Lá do céu, a Amarelinha, agora com seus óculos, chorou emocionada pela linda história que acabara de começar. Até o Destino, aquele coração gelado, se emocionou com aqueles dois.
E a vida foi linda, o Beni largou NY e abriu uma editora no Brasil, e a Lay continuou trabalhando no mesmo hospital, só se mudou para o coração do Beni.
E a dona Glória? No seu centésimo primeiro ano, ela virou uma estrelinha e foi morar no céu, mas apesar da distância nunca deixava de participar daquela história de amor, que só foi possível por causa dela.
“Something inside you is crying and driving you on
It's the first thing you see as you open your eyes
The last thing you say as your saying goodbye
Something inside you is crying and driving you on
Cause if you hadn't found me
I would have found you” (August Rush)