CADA UM COM SUA NECESSIDADE

O trabalho sempre foi necessário, a história mostra grandes construções sem máquinas para auxiliar. A mão humana já trabalhou muito e a força bruta já foi mais requisitada. Hoje a tecnologia abre mais espaço aos “inteligentes”, mas ainda trabalhamos muito, ainda formamos calos nas mãos, bolhas nos pés e dores nas costas. Menos que na construção das pirâmides do Egito, a Muralha da China, o Coliseu, entre outros.

Vivemos em dias melhores com mais qualidade de vida, longevidade e opções de caminhos a seguir. No entanto, essa diversidade de possibilidades, provoca perda de tempo. Procuram muito, trocam muito. Quando dão conta do que viveram, ou o que não viveram, já é tarde. Esse é o meu ponto de vista, não sei a realidade ou a relatividade do tempo, cada um tem o seu.

O trabalho, o esforço, o suor e principalmente, a responsabilidade, deve estar acima do medo de sujar as mãos ou pela vergonha de usar um uniforme. O trabalho é necessário independente se for para sobrevivência ou pela busca de um futuro mais confortável.

Há alguns dias, conversando com um conhecido, contando alguns de meus trabalhos, percebi que realmente a necessidade é relativa conforme o dia da conversa e o ser que está a sua frente.

Eu estava empolgado contando as novidades dos meus dias, e ouvi:

— Mas para que trabalhar tanto? A vida é tão curta, não sabemos se estaremos vivos amanhã.

Respondi que além da necessidade, acho melhor aproveitar o dia fazendo-o render. Mas logo veio outro questionamento somado a crítica:

— Mas tu não achas que deve aproveitar mais a vida? — E continuou: — Eu não vou me matar de trabalhar.

Continuei dizendo que o que faço não mata ninguém e apontei em direção do caminhão do lixo que passava em frente, mostrando os garis, que no meu ponto de vista, trabalham muito mais. Ele disse:

— Nem por dez mil por mês eu trabalharia como gari, “ta loco”. Isso é escravidão.

Inventei uma história e saí.

No dia seguinte, nos encontramos no mesmo lugar, eu, meio cabreiro com as conversas, apenas o cumprimentei e passei. Mas ouvi:

— Opa, preciso falar contigo.

Voltei ao seu encontro.

— Sabes de alguém que esteja procurando algum auxiliar de limpeza? Não aguento mais trabalhar aqui, já fechei sete meses, muita incomodação!

Na mesma hora lembrei do jornal que li onde estava a foto dos desempregados no feirão de empregos. Disse que poderia trabalhar comigo e que ele ganharia um pouco mais que atualmente. Ele respondeu:

— Vocês trabalham muito e às vezes trabalham sábado e domingo, não preciso de muito, quero barbada.

Respondi que nesse caso não conseguiria ajudar e ouvi a frase final que me deixou sem reação:

— Mesmo assim vou largar esse “trampo” aqui, cansei. E me diz uma coisa, tem vinte para me emprestar? “To” sem nenhum para o “rango”.

Eu já rindo da situação disse:

— Trabalha comigo que não vai te faltar mais nada.

Ele completou:

— Não, não. Sempre tem alguém para emprestar.

Virei as costas e saí.