Devaneios perdidos
As vezes oscilamos entre tantas emoções que já não sabemos que parte delas somos desse todo que se fragmentou.
Lamentamos os fatos do cotidiano com a mesma intensidade tal qual celebramos os bons acontecimentos. Vamos de altos e baixos embaixo dos momentos onde o nosso olhar pousa distante, só refletindo reflexos da rotina.
Talvez entre um suspiro e outro pouse o momento certo da lucidez como o tiquetaquear do relógio, melancólico se arrastando pelo quarto. Ponteiros fixos entre os intervalos de tempo que vai ritmado, quase um metrônomo inóspito.
Emoções nos tomam, variam, aceleram e desaceleram o ritmo de nosso próprio coração. Os pensamentos batem asas e esbarram uns nos outros, por vezes como pássaros assustados com o barulho de fogos de artifício de paisagens artificiais fora do tempo. Outras vezes tão ordenados como os que retornam ao seu lar, migratórios após temporada de verão em algum lugar perdido por aí.
Na vastidão do céu, que refletido no oceano já não sabe onde ele próprio começa e onde termina o outro, ambos se fundem para se tornar uma coisa só.
Existem juntos e seguem embalados pelo surgir do sol e da lua, e no meio do caminho, novamente intervalo entre cada segundo, fica o dia a existir.
Assim como cada um de nós, em um grão que vagueia pelo espaço. Abrimos a cada passo que damos a construção de uma história.
Já existente, perene ou nova...
Solitária a mente, vagueia em devaneios.
Cabe a cada um refletir sobre rabiscos que escreve nas páginas em branco, soltas ou costuradas do livro de folhas amareladas, com cheiro de novo a cada nova jornada.
Empilhados em biblioteca talvez empoeirada, cada um com sua história, folhas perdidas espalhadas, ideias, sentimentos, memórias de mais um movimento do existir.
Adriana A. Bruno
13/03/2022