CAFÉ PARIS, NITERÓI, ANOS 1920
ANTES DO CAFÉ
Nelson Marzullo Tangerini
Segundo o escritor e jornalista Lyad de Almeida, autor do livro “Lili Leitão, o Café Paris e a vida boêmia de Niterói & Niterói, poesia e saudade”, publicado pela Niterói Livros, Niterói, RJ, 1996”, “o Café Paris ou, para sermos mais precisos, o Hotel Café e Restaurante Paris, data de 1898 e estava localizado na Rua Visconde do Rio Branco, 417”.
Nessa época, o Café, que foi demolido no início dos anos 1940 para a construção da Avenida Amaral Peixoto, não se localizava em frente à Estação das Barcas, mas, sim, na Cantareira, na região do Gragoatá. Sendo assim, o obscuro Café passa a ficar movimentado, famoso, virando, então, um ponto de encontro de intelectuais quando a nova Estação é construída em frente ao estabelecimento.
Lyad nos informa, ainda, que Heitor Gurgel, em seu artigo “Niterói em três tempos”, publicado no jornal O Fluminense, Niterói, RJ, 24.1.74, escreveu que “O Café Paris, situado no andar térreo do hotel de mesmo nome, era frequentado pelos poetas, escritores e boêmios Max de Vasconcelos, Péricles Maciel, Lacerda Nogueira, Salomão Cruz, Homero Pinho, Joaquim Peixoto, Raul de Leoni, Quaresma Júnior, Euclides do Val, Renê Descartes de Medeiros, Franklin Coutinho, Eurípides Ribeiro, Altino Pires e outros, além dos jornalistas Elias Cabral, Aristides Melo, Bento Barbosa, Ari Silveira, Mário Alves e um jovem teatrólogo que logo se impôs à turma por seu talento e verve: Renato Viana”, o que nos faz crer que houve uma primeira geração “parisiense”.
O poeta resendense Luís Pistarini, intermediário nessas duas gerações, não é citado na crônica de Heitor Gurgel, o que é lamentável, mas há registros de sua intensa participação no “Cafelogeu”, como eles costumavam chamar o estabelecimento.
Luiz Leitão, Nestor Tangerini, Brasil dos Reis, Olavo Bastos, Apollo Martins, Gomes Filho, Mayrink, Benjamim Costa, Mazzini Rubano, Luiz de Gonzaga, entre outros, os “novos parisienses”, talentosa plêiade de diversas tendências literárias, afluem ao Café nos anos 1920, mais precisamente em 2022, justamente nesse momento em que a nova Estação das Barcas, construída agora em frente ao Café, registra um grande número de passageiros circulando entre Rio e Niterói.
Enfim, muitos desses novos poetas tiveram contato com a primeira geração do Paris. Uma árdua pesquisa deveria ser feita para dar continuidade ao belo trabalho de Rubens Falcão, autor de “Antologia de poetas fluminenses’, Editora Record, Rio de Janeiro, 1968, no sentido de robustecer a história literária do Rio de Janeiro, o estado que talvez tenha mais contribuído para a formação da literatura brasileira.
Quanto ao grande movimento de passageiros nas barcas, consta-se que alguns, que trabalhavam no antigo Distrito Federal, tinham tempo suficiente para tomar um cafezinho antes de a barca apitar e atracar na nova estação.
Republicamos, abaixo, o gracioso soneto “A vovó”, do livro "Vida Apertada", de Luiz Leitão. Lili, com certeza, é o poeta maior de Niterói. Além de Nestor Tangerini, falaremos muito sobre ele, no decorrer deste pretensioso livro.
“Seguida da vovó, meiga e bonita,
Ela entrou, saltitante, no armarinho.
- Tem fita de cetim azul-marinho?
Qual o preço? Pergunta ela catita.
- Um beijo cada metro, senhorita;
Responde-lhe o caixeiro, com carinho.
- É muito caro, mas, enfim, mocinho,
Corte-me doze metros dessa fita.
Nisto, o caixeiro, que era ‘almofadinha’,
Mais que depressa despachava a ‘zinha’,
Todo alegre e gentil, todo liró...
- Pronto, formosura, o pagamento agora,
E a moça lhe responde, sem demora:
- Adeus! Quem paga as compras é a vovó’.
Esperamos que os leitores deste livro saboreiem este delicioso café com os nossos “parisienses”.
Crônica do livro “Nestor Tangerini e o Café Paris & Depois do Café” (Aumentado), de Nelson Marzullo Tangerini. Em breve nas livrarias.