O BANDOLIM DE PISTARINI
O BANDOLIM DE PISTARINI
[Voltando ao Café Paris]
Nelson Marzullo Tangerini
Luis Pistarini, da última geração romântica, está na lista dos poetas esquecidos pelos cânones da tão “seletiva” literatura brasileira, apesar de ter publicado preciosos livros como “Bandolim" (1899), Sombrinhas, de luto" (1898) e "Postais" (1907).
Um de seus sonetos, “Deixando o lar”, nos faz lembrar do célebre soneto “Visita à casa paterna’, de Luís Guimarães Jr., outro poeta de nosso romantismo, como veremos abaixo:
“DEIXANDO O LAR
Cheio de dor que o coração me espanca
- banhando em prantos, vou, caminhando em fora,
Dizendo adeus à casinhola branca
Que foi meu berço, e que abandono agora.
Ai! Quem do peito, este pranto me arranca?
- Minh´alma, em cujo seio, a treva mora,
De mágoa, cheia, o coração me tranca,
Nessa, da mágoa, noite que apavora...
Adeus! Adeus, meu primitivo abrigo!
Não mais, d´essas janelas, no postigo
Tu me verás regando as minhas flores.
- Essas, que agora, paro o meu desterro,
Levo comigo, acompanhando o enterro
Das minhas crenças e dos meus amores”.
Seguindo em nosso trabalho, republicamos o famoso soneto de Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior, diplomata, poeta, contista, romancista e teatrólogo, que, com certeza, deixou marcas sentimentais em Luís Pistarini:
“VISITA À CASA PATERNA
A minha irmã Isabel
Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo:
Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos,—olhou-me, grave e terno,
E, passa a passo, caminhou comigo.
Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade”.
Como se sabe, os “parisienses” Luiz Leitão e Nestor Tangerini, escreveram sonetos parodiando “Visita à casa paterna”, como vimos no livro “Nestor Tangerini e o Café Paris”. Pistarini, um dos poetas da Roda do legendário Café Paris, antes dos anos 1920, também registraria, em soneto, a sua leitura de Luís Guimarães, nascido no Rio de Janeiro a 17 de fevereiro de 1845. Falecido a 20 de maio de 1878, em Lisboa, Portugal, o poeta carioca, volta e meia, é lembrado em saraus literários.
Luís Pistarini nasceu em Resende, RJ, em 1877. Começou a escrever aos onze anos, mesmo tendo cursado apenas quatro anos da escola primária. Era também jornalista e publicou seus textos em jornais e revistas da época.
Depois de ficar viúvo, deixou o sul fluminense e foi morar no Rio de Janeiro. Seu livro “Sombrinhas, de luto”, de 1898, foi escrito aos vinte e um anos, influenciado pela dor de sua viuvez. Retornou, porém, à sua terra natal, onde veio a falecer, em 24 de fevereiro de 1918. Terminou seus últimos dias num simples e pobre leito da Santa Casa de Misericórdia de Resende.
Por iniciativa de amigos, com prefácio do poeta Luís Murat, outro “parisiense”, “Agonias e Ressurreição”, poemas, foi publicado postumamente.