UM MERGULHO NA IMENSIDÃO DAS LETRAS
Escrevo porque os sentimentos me impulsionam, sou levado pela correnteza dos instantes humanos e sacolejado pelo grito das dores e dos prazeres. Se tamanha e absurda tristeza me sobrevém, ou caso incomensurável alegria domine minha alma, apresso-me a confessa-la às palavras como se derramando o cálice de veneno ou de vinho que transborda. O mergulho na imensidão das letras, cujo caos é automaticamente transformado em equilibrada concepção literária por sua própria condição e beleza, ocorre devido a necessidade de abrir as comportas da barragem que segura as águas dos meus momentos mais intensos.
Dou-me à escrita quando inquieta-me o abraço aterrador da solidão e somente o silêncio fala os tormentos de, nem que seja por instantes, não ter ninguém, de estar carente de vozes e sorrisos, de me sentir faminto de abraços verdadeiros, ao pulsar do sangue em circulação, à mornidão do calor espraiado pelos vivos. Mas, pergunto-me: ser alguém solitário não é inerente aos escritores após sua entrega à obra que tanto deseja elaborar? Meu coração responde: embora sem dúvida seja, ainda assim magoa. A presença dos entes queridos, da pessoa amada, dos amigos de quando em vez, sim, o fator humano em primeira e última instância, deveras imprescindível à sanidade de todos da mesma espécie. A interação social, essa convivência serena, torna os homens aptos a continuar a jornada que lhes está imposta pelo destino.
Desse modo, após colocados em palavras, texto e contexto, tudo que abala a alma e transtorna o coração, a magia acontece: as batidas cardíacas normalizam, a alma se tranquiliza em doce paz e a mente, antes em borbulhas torturantes, volta a recolher-se em berço esplêndido. Sim, escrever "me dá asas", mas são asas leves e sonhadoras, me transmite serenidade e acalma o espírito se acaso estiver atordoado. A verdadeira catarse.