O Homo Sapiens Perante o Universo

É provável que o universo exista há bilhões de anos, que venha de muito longe e sem propósito algum. Mesmo assim, nós, meros mortais, achamos que suas leis são uma estática ordem a serviço de nossa sobrevivência. Mas para além das aneladas fantasias, a crueza diária dos fatos sentencia o homem num curto respirar que está acontecendo provisoriamente até o soar do xeque mate fatal.

O homo sapiens é um soberbo ser composto de água e carbono entocado num insignificante planeta, mas com férvidos sonhos de que sua existência não é nada vã. Ele destila seus dias de incertezas em adornadas vestes de conhecimento. Filosofias, deuses, ciências, ideologias.... Suas dores e espantos diante do vácuo que habita são suavizados em utopias muitas vezes esvaziadas de empiria.

O homem finge que é o forte, o destemido controlador da natureza. Atribui a si uma pretensa importância, mas no fundo sabe que sua geografia de miudezas é insignificante, uma mera poeira estrelar na imensidão do cosmos. É ciente que está perdido entre inúmeras galáxias, mas persiste em envaidecer o ego para tentar ser o centro das atenções no imenso labirinto da mudez espacial.

Apesar do reconhecimento da ideia do universo indiferente ao ser humano ser uma cosmovisão aniquiladora, o primata pensante deve viver desafiando o silencio sepulcral em sentidos oferecido ao seu redor. É diante da lucidez dessas limitações que uma pessoa abraça a vida da forma mais intensa possível.

Nessa tragicomédia de conceber o mundo enquanto ordeiro e razoável, em um universo indiferente aos dourados sonhos, o ser humano deve viver nesse conflitante ambiente e nele projetar um propósito/valor para dentro do vazio criar seu próprio sentido. Diante dessa inércia de sentidos oferecidos pelo cosmos, o primata produtor de signos tem total liberdade de viver com autenticidade. Somos o que podemos ser nessa existência finita e transitória.

Desse modo, o sentido da vida se dá nas atividades e sentimentos que nos move, os quais nos motiva e assim subjetivamente constituem o significado para a nossa existência. Apesar de toda manhã se restabelecer o monótono silencio universal, o homem deve levantar do leito e prosseguir com a responsabilidade de produzir respostas úteis para seu drama existencial. Amar, viajar, beber, caminhar, beijar a mulher amada, conhecer novos lugares, experimentar sabores, transar, refletir, escrever... Suspiros subjetivos que nutrirão de sentido os instantes vividos, mesmo que eles estejam diante da foice fatal. É abrir no peito uma aventura de atividades que tornem os curtos dias deliciosos de serem vividos.

10.12.2019

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 12/03/2022
Reeditado em 12/03/2022
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